sábado, 19 de novembro de 2011

Personagem Histórico de Aparecida

Faculdades Integradas Teresa D’Ávila - FATEA

Faculdade de Pedagogia


Alcione Aparecida Almeida da Costa

 
Projeto:
Personagem histórico do Vale do Paraíba
Depoimento oral e transcrição

                                             Lorena, 2011
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Faculdades Integradas Teresa D’Ávila - FATEA

Faculdade de Pedagogia


Alcione Aparecida Almeida da Costa

 
Projeto:
Personagem histórica do Vale do Paraíba





Projeto de pesquisa exploratória  apresentado ao 3º ano do curso de Pedagogia à disciplina de Fund. Metodológicos para o Ensino de Ciências Sociais das Faculdades Integradas Teresa D’ Ávila – Fatea.

 Profª . Dr. Henrique Alkimin Prudente

Lorena, 2011
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Tema: Personagem Histórico de Aparecida



Objetivo Geral: Colher depoimento de um parente próximo de um personagem  
                           histórico do Vale do Paraíba como resgate da história.


Objetivo Específico: - Ouvir relatos sobre o personagem;
                                   - Colher dados sobre sua história;
                                   - Comparar e relacionar a história de vida do personagem
                                     com o passado.

Participante: Um indivíduo da família.

Justificativa: Para que a história seja um resgate de valor é preciso que haja
                       um levantamento de dados sobre o personagem escolhido.  
                       Dessa forma ele será resgatado na história e terá valorização
                       como indivíduo que fez parte de um determinado período.
 A história é feita a partir de cada um de nós. Somos parte de um todo. No entanto a história parece por vezes distante e maçante, portanto, para incentivarmos nossos alunos a vê-la como algo real e próxima a eles, projetos como este são importantes, fazer com que eles vejam que seus pais, avós, vizinhos a construíram e que eles mesmos são parte dela. Construindo o futuro através do presente, modificando, participando, alterando, mesmo que não se tenha consciência plena disso.

Desenvolvimento: O projeto será aplicado em um indivíduo da família por
                                meio de entrevista que será transformado em relato.
                                Portanto, será aplicado em uma única vez por meio de
                                coleta de dados.

Avaliação: Será por meio da participação do entrevistado.

Entrevista

Entrevistadora: Alcione Aparecida Almeida da Costa
Entrevistado: Luiz Cláudio de Paiva
Local da entrevista: Rua Dr. César Segaud, nº 66; Bairro: São Sebastião – Aparecida – SP

O entrevistado é filho do personagem histórico da cidade de Aparecida, José Ribeiro de Paiva, “Seu” Zé da Correntinha.



Entrevistadora: Como se chamava seu pai?
Entrevistado: José Ribeiro de Paiva.

Entrevistadora: Onde nasceu e em que ano?
Entrevistado: Nasceu em Passa Quatro no ano de 1934, mas veio para Aparecida aos dez anos de idade e aqui ficou até o final de sua vida. Ele morreu em 1998.

Entrevistadora: Mas como ele veio para Aparecida?
Entrevistado: Veio por meio de um circo que estava de passagem, porque sua família era de ciganos, então seus pais deixaram ele viver em Aparecida.

Entrevistadora: Como se chamava a esposa dele?
Entrevistado: Rosária Cândida Marcelino de Paiva.

Entrevistadora: Quantos filhos tiveram?
Entrevistado: Tiveram treze filhos, mas somente seis sobreviveram: Márcia, Zilda, Luiz Cláudio, Sueli, Benedito e Biraci; os restantes morreram ao nascer.

Entrevistadora: Onde trabalhava e como você acha que seu pai marcou a história de Aparecida?
Entrevistado: Meu pai começou a trabalhar em Aparecida com quinze anos. Foi o primeiro vendedor ambulante a trabalhar em frente à Basílica Velha. Quando ele começou, a praça de Nossa Senhora Aparecida ainda não era asfaltada, o chão era de terra e os romeiros vinham a cavalo ou em romarias feitas a pé ou de caminhão. Meu pai começou vendendo fitinhas com o nome de Nossa Senhora Aparecida na praça; depois passou a vender com a medalha de Nossa Senhora Aparecida e foi dessa maneira que ganhou o apelido de “Seu” Zé da Correntinha, nome pelo qual ficou conhecido na Praça de Aparecida e em toda a cidade, por todos os moradores. Com o passar dos anos também passou a vender bilhetes de loteria.

Entrevistadora: E como os comerciantes e os moradores o viam?
Entrevistado: Como uma pessoa boa, honesta e trabalhadora que trabalhava todos os dias em frente à Basílica e que ajudava as pessoas, inclusive os romeiros que se perdiam na cidade, era um senhor muito educado.

Entrevistadora: O que mais marcava a figura do “Seu” Zé da Correntinha?
Entrevistado: Era sua bolsa (“bornal”) verde cheia de mercadoria em suas mãos e o fato de ser sempre alegre e estar sorrindo para todos.

Entrevistadora: Em sua carreira como ambulante chegou a ser entrevistado alguma vez?
Entrevistado: Sim, como ele ficava na praça todos os dias a revista Manchete em 1995, chegou a fazer uma entrevista em que ele aparecia na página 48.

Entrevistadora: E o que eles queriam saber dele?
Entrevistado: Sobre sua vida, sua história e porque ele era o ambulante mais antigo da Praça Nossa Senhora Aparecida.


Entrevistadora: Do que o seu pai não gostava?
Entrevistado: Ele não gostava de ficar em casa, levantava cedo e já ia trabalhar na praça.

Entrevistadora: Ele chegou a realizar algum sonho?
Entrevistado: Sim, ele conseguiu, com seu trabalho de ambulante, comprar este terreno, onde todos os filhos moram, e construir esta casa.

Entrevistadora: É difícil para você ir à praça já que lá deve ser bem forte a lembrança do seu pai?
Entrevistado: Não, gosto de ir lá justamente por causa disso, por lembrar dele lá, ouvir todos me dizerem como sentem saudades do “Seu” Zé da Correntinha sempre com sua bolsa verde ao lado, partilhar recordações daquele homem simples, puxando de uma perna e que mesmo cansado pela idade sempre ia trabalhar.

Entrevistadora: Ah, ele “puxava” de uma perna?
Entrevistado: Sim, quando ele tinha quinze anos foi atropelado por um carro na praça em frente à Basílica. Mas isso nunca tirou a vontade dele de trabalhar ou a alegria de viver.

Entrevistadora: Como você resume seu pai como personagem histórico de Aparecida?
Entrevistado: Trabalhador, ambulante, guerreiro e vencedor.

Entrevistadora: O que você diria para ele se ele ainda estivesse vivo?
Entrevistado: Pai, você foi e é o nosso maior personagem, você fez parte de nossas vidas e da vida da cidade de Aparecida.

Entrevistadora: Ok! Obrigada pela entrevista.
Entrevistado: Eu é que agradeço.




Depoimento: Foi para nós uma surpresa descobrir que algo tão comum como os vendedores ambulantes em Aparecida (que sempre pareceram estar lá) se iniciaram a partir da ideia de um único e simples homem e nem faz tanto tempo assim. Como forma de ganhar a vida ele iniciou a tradição de vender fitas e medalhinhas de Nossa Senhora e isso se ramificou e diversificou criando trabalho e se tornando meio de sustento para centenas de famílias. E apesar do passar do tempo perdura a memória desse homem simples, trabalhador, honesto e simpático. Talvez algumas pessoas possam dizer que ele não foi importante para a história mundial, mas a história não é feita só de grandes personagens, isso é o mesmo que dizer que a Basílica tem a cúpula e a torre, porque são elas que mais aparecem. Assim como a Basílica é feita de milhares de pequenos tijolos, assim também a história é feita de pessoas comuns, que a sustentam, e José Ribeiro de Paiva, ao falar de seu pai,“Seu” Zé da Correntinha, nos mostrou isso.


Conto: Ao chegar em Aparecida, em 1944, Zé se encantou com a cidade. Uma ideia se fixou na sua cabeça, ficar ali, largar a vida do circo. Depois de muito conversar com sua família eles concordaram, mesmo sabendo que isso o afastaria das tradições ciganas de seu povo.
Para ganhar a vida Zé começou a vender fitas de Nossa Senhora aos romeiros em frente da Basílica velha e depois correntinhas com a medalha de Nossa Senhora Aparecida, sempre levando suas mercadorias dentro de seu “bornal” verde. Sua gentileza ao orientar as pessoas perdidas, sua simpatia conquistavam os clientes. Trabalhava fizesse sol ou chuva. E nem mesmo um atropelamento causado por um carro o deteve nessa jornada diária. Teimoso e determinado, disse que ter uma perna menos ágil não o atrapalhava em seu trabalho.
Conheceu Rosária e se apaixonou. Determinado a construir uma vida segura para sua futura família, empenhou-se ainda mais em seu trabalho, comprou um terreno, foi construindo uma casa, que teve de aumentar à medida que os filhos vinham. Tiveram treze filhos, mas somente seis sobreviveram: Márcia, Zilda, Luiz Cláudio, Sueli, Benedito e Biraci. Os outros, ainda “anjinhos”, como se dizia antigamente, voltaram para os braços de Deus. Zé (que a essa altura já tinha o apelido de “Seu” Zé da Correntinha) criou os filhos centrados no mesmo modo de vida dele: trabalho, honestidade, educação, bondade.
Viu outras pessoas começarem a ganhar a vida fazendo tal como ele, trabalhando como vendedores ambulantes. O tempo passava, os filhos cresceram, casaram, construíram casas no terreno do pai, que tal como o seu coração, sempre estava pronto para abrigar mais um; chegaram os netos, o tempo passava.
A revista Manchete em 1995 entrevistou-o, mas isso em nada mudou “Seu” Zé. Continuou levando sua vida calmamente, nunca deixando de ir para seu ponto de trabalho até que, em 1998, Deus achou por bem mudar seu local de trabalho da capital religiosa do Brasil para o Céu.