sábado, 23 de março de 2013

Biografia: Clarice Lispector

http://www.vidaslusofonas.pt/clarice02.gif"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..."


1920 - Clarice Lispector nasce em Tchetchelnik, na Ucrânia, no dia 10 de dezembro, tendo recebido o nome de Haia Lispector, terceira filha de Pinkouss e de Mania Lispector. Seu nascimento ocorre durante a viagem de emigração da família em direção à América.

1922 - Seu pai consegue, em Bucareste, um passaporte para toda a família no consulado da Rússia. Era fevereiro quando foram para a Alemanha e, no porto de Hamburgo, embarcam no navio "Cuyaba" com destino ao Brasil. Chegam a Maceió em março desse ano, sendo recebidos por Zaina, irmã de Mania, e seu marido e primo José Rabin, que viabilizara a entrada da biografada e de sua família no Brasil mediante uma "carta de chamada".  Por iniciativa de seu pai, à exceção de Tania — irmã, todos mudam de nome: o pai passa a se chamar Pedro; Mania, Marieta; Leia — irmã, Elisa; e Haia, em Clarice. Pedro passa a trabalhar com Rabin, já um próspero comerciante.

1925 - A família muda-se para Recife, Pernambuco, onde Pedro pretende construir uma nova vida. A doença de sua mãe, Marieta, que ficou paralítica, faz com que sua irmã Elisa se dedique a cuidar de todos e da casa.

1928 - Passa a freqüentar o Grupo Escolar João Barbalho, naquela cidade, onde aprende a ler. Durante sua infância a família passou por sérias crises financeiras.

1930 - Morre a mãe de Clarice no dia 21 de setembro. Nessa época, com nove anos, matricula-se no Collegio Hebreo-Idisch-Brasileiro, onde termina o terceiro ano primário. Estuda piano, hebraico e iídiche. Uma ida ao teatro a inspira e ela escreve "Pobre menina rica", peça em três atos, cujos originais foram perdidos.  Seu pai resolve adotar a nacionalidade brasileira.

1931 - Inscreve-se para o exame de admissão no Ginásio Pernambucano. Já escrevia suas historinhas, todas recusadas pelo Diário de Pernambuco, que àquela época dedicava uma página às composições infantis. Isso se devia ao fato de que, ao contrário das outras crianças, as histórias de Clarice não tinham enredo e fatos — apenas sensações. Convive com inúmeros primos e primas.

1932 - É aprovada no exame de admissão e, junto com sua irmã Tania e sua prima Bertha, ingressa no tradicional Ginásio Pernambucano, fundado em 1825. Passa a visitar a livraria do pai de uma amiga. Lê  "Reinações de Narizinho", de Monteiro Lobato, que pegou emprestado, já que não podia comprá-lo.

1933 - Seu pai prospera e mudam-se para casa própria, no mesmo bairro.

1934 - Pedro, pai de Clarice, em Dezembro desse ano, decide transferir-se para a cidade do Rio de Janeiro.

1935 - Viaja para o Rio, em companhia de sua irmã Tania e de seu pai, na terceira classe do vapor inglês "Highland Monarch". Vão morar numa casa alugada perto do Campo de São Cristóvão. Ainda nesse ano, mudam-se para uma casa na Tijuca, na rua Mariz e Barros. No colégio Sílvio Leite, na mesma rua de sua casa, cursa o quarta série ginasial. Lê romances adocicados, próprios para sua idade.

1936 - Termina o curso ginasial. Inicia-se na leitura de livros de autores nacionais e estrangeiros mais conhecidos, alugados em uma biblioteca de seu bairro. Conhece os trabalhos de Rachel de Queiroz, Machado de Assis, Eça de Queiroz, Graciliano Ramos, Jorge Amado, Dostoiévski e Júlio Diniz.

1937 - Matricula-se no curso complementar (dois últimos anos do curso secundário) visando o ingresso na Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro.

1938 - Transfere-se para o curso complementar do colégio Andrews, na praia de Botafogo. Às voltas com dificuldades financeiras, dá aulas particulares de  português e matemática. A relação professor/aluno seria um dos temas preferidos e recorrentes em toda a sua obra — desde o primeiro romance: Perto do Coração Selvagem. Ao mesmo tempo, aprende datilografia e faz inglês na Cultura Inglesa.

1939 - Inicia seus estudos na Faculdade Nacional de Direito. Faz traduções de textos científicos para revistas em um laboratório onde trabalha como secretária. Trabalha, também como secretária, em um escritório de advocacia.

1940 - Seu conto, Triunfo, é publicado em 25 de maio no semanário "Pan", de Tasso da Silveira. Em outubro desse ano, é publicado na revista "Vamos Ler!", editada por Raymundo Magalhães Júnior, o conto Eu e Jimmy. Esses trabalhos não fazem parte de nenhuma de suas coletâneas. Após a morte de seu pai, no dia 26 de agosto, a escritora — talvez motivada por esse acontecimento — escreve diversos contos: A fuga, História interrompida e O delírio. Esses contos serão publicados postumamente em A bela e a fera, de 1979. Passa a morar com a irmã Tania, já casada, no bairro do Catete. Consegue um emprego de tradutora no temido Departamento de Imprensa e Propaganda - DIP, dirigido por Lourival Fontes. Como não havia vaga para esse trabalho, Clarice ganha o lugar de redatora e repórter da Agência Nacional. Inicia-se, ai, sua carreira de jornalista. No novo emprego, convive com Antonio Callado, Francisco de Assis Barbosa, José Condé e, também, com Lúcio Cardoso, por quem nutre durante tempos uma paixão não correspondida: o escritor era homossexual. Com seu primeiro salário, entra numa livraria e compra "Bliss - Felicidade", de Katherine Mansfield, com tradução de Erico Verissimo, pois sentiu afinidade com a escritora neozelandesa.

1941 - Em 19 de janeiro, publica a reportagem "Onde se ensinará a ser feliz", no jornal "Diário do Povo", de Campinas (SP), sobra a inauguração de um lar para meninas carentes realizada pela primeira-dama Darcy Vargas. Além de textos jornalísticos, continua a publicar textos literários. Cursando o terceiro ano de direito, colabora com a revista dos estudantes de sua faculdade, "A Época", com os artigos Observações sobre o fundamento do direito de punir e Deve a mulher trabalhar? Passa a freqüentar o bar "Recreio", na Cinelândia, centro do Rio de Janeiro, ponto de encontro de autores como Lúcio Cardoso, Vinicius de Moraes, Rachel de Queiroz, Otávio de Faria, e muitos mais.

1942 - Começa a namorar com Maury Gurgel Valente, seu colega de faculdade. Com 22 anos de idade, recebe seu primeiro registro profissional, como redatora do jornal "A Noite". Lê Drummond, Cecília Meireles, Fernando Pessoa e Manuel Bandeira. Realiza cursos de antropologia brasileira e psicologia, na Casa do Estudante do Brasil. Nesse ano, escreve seu primeiro romance, Perto do coração selvagem.

1943 - Casa-se com o colega de faculdade Maury Gurgel Valente e termina o curso de Direito. Seu marido, por concurso, ingressa na carreira diplomática.

1944 - Muda-se para Belém do Pará (PA), acompanhando seu marido. Fica por lá apenas seis meses. Seu livro recebe críticas favoráveis de Guilherme Figueiredo, Breno Accioly, Dinah Silveira de Queiroz, Lauro Escorel, Lúcio Cardoso, Antonio Cândido e Ledo Ivo, entre outros. Álvaro Lins publica resenha com reparos ao livro mesmo antes de sua publicação, baseado na leitura dos originais. Qualifica o livro de "experiência incompleta". Há os que pretendem não compreender o romance, os que procuram influências — de Virgínia Wolf e James Joyce, quando ela nem os tinha lido — e ainda os que invocam o temperamento feminino. Nas palavras de Lauro Escorel, as características do romance revelam uma "personalidade de romancista verdadeiramente excepcional, pelos seus recursos técnicos e pela força da sua natureza inteligente e sensível." O casal volta ao Rio e, em 13/07/44, muda-se para Nápoles, em plena Segunda Guerra Mundial, onde o marido da escritora vai trabalhar. Já na saída do Brasil, Clarice mostra-se dividida entre a obrigação de acompanhar o marido e ter de deixar a família e os amigos. Quando chega à Itália, depois de um mês de viagem, escreve: "Na verdade não sei escrever cartas sobre viagens, na verdade nem mesmo sei viajar." Termina seu segundo romance, O lustre. Recebe o prêmio Graça Aranha com Perto do coração selvagem, considerado o melhor romance de 1943. Conhece Rubem Braga, então correspondente de guerra do jornal "Diário Carioca".

1945 - Dá assistência a brasileiros feridos na guerra, trabalhando em hospital americano. O pintor italiano Giorgio De Chirico pinta-lhe um retrato. Viaja pela Europa e conhece o poeta Giuseppe Ungaretti. O lustre é publicado no Brasil pela Livraria Agir Editora.

1946 - Após o lançamento do livro, Clarice vem ao Brasil como correio diplomático do Ministério das Relações Exteriores, aqui ficando por quase três meses. Nessa época, apresentado por Rubem Braga, conhece Fernando Sabino que a introduz a Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos e, posteriormente, a Hélio Pellegrino. De volta à Europa, vai morar com a família em Berna, Suíça, para onde seu marido havia sido designado como segundo-secretário. Sua correspondência com amigos brasileiros a mantinha a par das novidades, em especial as trocadas com Fernando Sabino. A troca de cartas com o escritor, quase que diariamente, duraria até janeiro de 1969. A convite, passam as festas de fim de ano com Bluma e Samuel Wainer, em Paris.

1947 - Em carta às irmãs, em janeiro de 47, de Paris, Clarice expõe seu estado de inadaptação:"Tenho visto pessoas demais, falado demais, dito mentiras, tenho sido muito gentil. Quem está se divertindo é uma mulher que eu detesto, uma mulher que não é a irmã de vocês. É qualquer uma."  Em carta a Lúcio Cardoso, que havia lhe enviado seu livro "Anfiteatro", demonstra sua admiração pelas personagens femininas da obra.

1948 - Clarice fica grávida de seu primeiro filho. Para ela, a vida em Berna é de miséria existencial. A Cidade Sitiada, após três anos de trabalho, fica pronto. Terminado o último capítulo, dá à luz. Nasce então um complemento ao método de trabalho. Ela escreve com a máquina no colo, para cuidar do filho. Na crônica "Lembrança de uma fonte, de uma cidade", Clarice afirma que, em Berna, sua vida foi salva por causa do nascimento do filho Pedro, ocorrido em 10/09/1948, e por ter escrito um dos livros "menos gostados" (a editora Agir recusara a publicação).

1949 - Clarice volta ao Rio. Seu marido é removido para a Secretaria de Estado, no Rio de Janeiro. A cidade sitiada é publicado pela editora "A Noite". O livro não obtém grande repercussão entre o público e a crítica.

1950 - Escrevendo contos e convivendo com os amigos (Sabino, Otto, Lúcio e Paulo M. Campos), vê chegar a hora de partir: seguindo os passos de seu marido, retorna à Europa, onde mora por seis meses na cidade de Torquay, Inglaterra.

Sofre um aborto espontâneo em Londres. É atendida pelo vice-cônsul na capital inglesa, João Cabral de Melo Neto.

1951 - A escritora retorna ao Rio de Janeiro, em março. Publica uma seleta com seis contos na coleção "Cadernos de cultura", editada pelo Ministério da Educação e Saúde. Falece sua grande amiga Bluma, ex-esposa de Samuel Wainer.

1952 - Cola grau na faculdade de direito, depois de muitos adiamentos. Volta a trabalhar em jornais, no período de maio a outubro, assinando a página "Entre Mulheres", no jornal "Comício", sob o pseudônimo de "Tereza Quadros". Atendeu a um pedido do amigo Rubem Braga, um dos fundadores do jornal. Nesse setembro, já grávida, embarca para a capital americana onde permanecerá por oito anos. Clarice inicia o esboço do romance A veia no pulso, que viria a ser A Maçã no Escuro, livro publicado em 1961.

1953 - Em 10 de fevereiro, nasce Paulo, seu segundo filho. Ela continua a escrever A Maçã no Escuro, em meio a conflitos domésticos e interiores. Mãe, Clarice Lispector divide seu tempo entre os filhos, A Maçã no Escuro, os contos de Laços de Família e a literatura infantil. Nos Estados Unidos, Clarice conhece o renomado escritor Erico Veríssimo e sua esposa Mafalda, dos quais torna-se grande amiga. O escritor gaúcho e sua esposa são  escolhidos para padrinhos de Paulo. Não tem sucesso seu projeto de escrever uma crônica semanal para a revista "Manchete". Tem a agradável notícia de que seu romance Perto do coração selvagem seria traduzido para o francês.

1954 - É lançada a primeira edição francesa de Perto do coração selvagem, pela Editora Plon, com capa de Henri Matisse, após inúmeras reclamações da escritora sobre erros na tradução. Em julho, com os filhos, viaja para o Brasil, aqui ficando até setembro. De volta aos Estados Unidos, interrompe a elaboração de A maçã no escuro e se dedica, por cinco meses, a escrever seis contos encomendados por Simeão Leal.

1955 - Retorna a escrever o novo romance e contos. Sabino, que leu os seis contos feitos sob encomenda, os acho "obras de arte".

1956 - Termina de escrever A Maçã no Escuro (até então com o titulo de A veia no pulso). Érico Veríssimo e família retornam ao Brasil, não sem antes aceitarem serem os padrinhos de Pedro e Paulo. Entre os escritores, inicia-se uma vasta correspondência. A escritora e filhos vêm passar as férias no Brasil e Clarice aproveita para tentar a publicação de seu novo romance e os novos contos. Apesar de todo o empenho de Fernando Sabino e Rubem Braga, os livros não são editados. A escritora dá sinais de sua indisposição para com o tipo de vida que leva.

1957 - Rompe unilateralmente o contrato com Simeão Leal e autoriza Sabino e Braga a encaminharem seus contos — nessa altura em número de quinze — para serem publicados no "Suplemento Cultural" do jornal "O Estado de São Paulo". Seu casamento vive momentos de tensão.

1958 - Conhece e se torna amiga da pintora Maria Bonomi. É convidada a colaborar com a revista "Senhor", prevista para ser lançada no início do ano seguinte. Erico Verissimo escreve informando estar autorizado a editar seu romance e, também, seus contos pela Editora Globo, de Porto Alegre. 1.000 exemplares — dos mais de 1.700 remanescentes — de "Près du coeur sauvage" são incinerados, por falta de espaço de armazenamento. O casamento de Clarice dá sinais de seu final.

1959 - Separa-se do marido e, em julho, regressa ao Brasil com seus filhos. Seu livro continua inédito. A escritora resolve comprar o apartamento onde está residindo, no bairro do Leme, e, para isso, busca aumentar seus ganhos. Sob o pseudônimo de "Helen Palmer", inicia, em agosto, uma coluna no jornal "Correio da Manhã", intitulada "Correio feminino — Feira de utilidades".

1960 - Publica, finalmente, Laços de Família, seu primeiro livro de contos, pela editora Francisco Alves. Começa a assinar a coluna "Só para Mulheres", como "ghost-writer" da atriz Ilka Soares, no "Diário da Noite", a convite do jornalista Alberto Dines. Assina, com a Francisco Alves, novo contrato para a publicação de A maçã no escuro. Torna-se amiga da escritora Nélida Piñon.

1961 - Publica o romance A maçã no escuro. Recebe o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, por Laços de família.

1962 - Passa a assinar a coluna "Children's Corner", da seção "Sr. & Cia.", onde publica contos e crônicas. Visita, com os filhos, seu ex-marido que se encontra na Polônia. Recebe o prêmio Carmen Dolores Barbosa (oferecido pela senhora paulistana de mesmo nome), por A maçã no escuro, considerado o melhor livro do ano.

1963 - A convite, profere no XI Congresso Bienal do Instituto Internacional de Literatura Ibero-Americana, realizado em Austin - Texas, conferência sobre o tema "Literatura de vanguarda no Brasil. Conhece Gregory Rabassa, mais tarde tradutor para o inglês de A maçã no escuro. A paixão segundo G. H. é escrito em poucos meses, sendo entregue à Editora do Autor, de Sabino e Braga, para publicação. Compra um apartamento em construção no bairro do Leme.

1964 - Publica o livro de contos A legião estrangeira e o romance A Paixão Segundo G. H., ambos pela Editora do Autor. Em dezembro, o juiz profere a sentença que poria fim ao processo de separação de Clarice e Maury.

1965 - Em maio, muda-se para o apartamento comprados em 1963. Sua obra passa a ser vista com outros olhos — pela crítica e pelo público leitor — após A paixão segundo G. H. Resultado de uma seleta de trechos de seus livros, adaptados por Fauzi Arap, é encenada no Teatro Maison de France o espetáculo Perto do coração selvagem, com José Wilker, Glauce Rocha e outros. Dedica-se à educação dos filhos e com a saúde de Pedro, que apresenta um quadro de esquizofrenia, exigindo cuidados especiais. Apesar de traduzida para diversos idiomas e da republicação de diversos livros, a situação financeira de Clarice é muito difícil.

1966 - Na madrugada de 14 de setembro a escritora dorme com um cigarro aceso , provocando um incêndio. Seu quarto ficou totalmente destruído. Com inúmeras queimaduras pelo corpo, passou três dias sob o risco de morte — e dois meses hospitalizada. Quase tem sua mão direita — a mais afetada — amputada pelos médicos. O acidente mudaria em definitivo a vida de Clarice.

1967 - As inúmeras e profundas cicatrizes fazem com que a escritora caia em depressão, apesar de todo o apoio recebido de seus amigos. Não foi só um ano de acontecimentos ruins. Começa a publicar em agosto — a convite de Dines — crônicas no "Jornal do Brasil", trabalho que mantém por seis anos. Lança o livro infantil O mistério do coelho pensante, pela José Álvaro Editor. Em dezembro, passa a integrar o Conselho Consultivo do Instituto Nacional do Livro.

1968 - Em maio, o livro O mistério do coelho pensante é agraciado com a "Ordem do Calunga", concedido pela Campanha Nacional da Criança. Entrevista personalidades para a revista "Manchete" na seção "Diálogos possíveis com Clarice Lispector". Participa da manifestação contra a ditadura militar, em junho, chamada "Passeata dos 100 mil". Morrem seus amigos e escritores Lúcio Cardoso e Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta). É nomeada assistente de administração do Estado. Profere palestras na Universidade Federal de Minas Gerais e na Livraria do Estudante, em Belo Horizonte. Publica A mulher que matou os peixes, outro livro infantil, ilustrado por Carlos Scliar.

1969 - Publica seu "hino ao amor": Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres, pela Editora Sabiá. O romance ganha o prêmio "Golfinho de Ouro", do Museu da Imagem e do Som. Viaja à Bahia onde entrevista para a "Manchete" o escritor Jorge Amado e os artistas Mário Cravo e Genaro. Em 14/08 é aposentada pelo INPS - Instituto Nacional de Previdência Social. Seu filho Paulo, mora nos Estados Unidos desde janeiro, num programa de intercâmbio cultural. Seu irmão Pedro, em tratamento psiquiátrico, esteve internado por um mês, em junho.

1970 - Começa a escrever um novo romance, com o título provisório de Atrás do pensamento: monólogo com a vida. Mais adiante, é chamado Objeto gritante. Foi lançado com o título definitivo de Água viva. Conhece Olga Borelli, de que se tornaria grande amiga.

1971 - Publica a coletânea de contos Felicidade clandestina, volume que inclui O ovo e a galinha, escrito sob o impacto da morte do bandido Mineirinho, assassinado pela polícia com treze tiros, no Rio de Janeiro. Há, também, um conjunto de escritos em que rememora a infância em Recife. Encarrega o professor Alexandre Severino da tradução, para o inglês, de Atrás do pensamento: monólogo com a vida. Dez de seus contos já publicados constam de "Elenco de cronistas modernos", lançado pela Editora Sabiá.

1972 - Retoma a revisão de Atrás do pensamento, com o qual não estava satisfeita. Faz inúmeras alterações no texto e passa a chamá-lo Objeto gritante. Repensando o romance, procura distrair-se. Durante um mês posa para o pintor  Carlos Scliar, em Cabo Frio (RJ).

1973 - Publica o romance Água viva, após três anos de elaboração, pela Editora Artenova, que lançaria também, nesse ano, A imitação da rosa, quinze contos já publicados anteriormente em outras coletâneas. Alberto Dines, em carta à escritora, diz sobre Água viva: "[...] É menos um livro-carta e, muito mais, um livro música. Acho que você escreveu uma sinfonia". Viaja à Europa com a amiga Olga Borelli. Clarice deixa de colaborar com o "Jornal do Brasil", face à demissão de Alberto Dines, no mês de dezembro.

1974 - Para manter seu nível de renda, aumenta sua atividade como tradutora. Verte, entre outros, "O retrato de Dorian Gray", de Oscar Wilde, adaptado para o público juvenil, pela Ediouro. Publica, pela José Olympio Editora, outro livro infantil, A vida íntima de Laura e dois livros de contos, pela Artenova: A via crucis do corpo e Onde estivestes de noite. Uma curiosidade: a primeira edição de Onde estivestes de noite foi recolhida porque foi colocado, erroneamente, um ponto de interrogação no título. Seu cão, Ulisses, lhe morde o rosto, fazendo com que se submeta a cirurgia plástica reparadora reparadora realizada por seu amigo Dr. Ivo Pitanguy. Lê, em Brasília (DF), a convite da Fundação Cultural do Distrito Federal, a conferência "Literatura de vanguarda no Brasil", que já apresentara no Texas. Participa, em Cali — Colômbia, do IV Congresso da Nova Narrativa Hispano-americana. Seu filho, Paulo, vai morar sozinho, em um apartamento próximo ao da escritora. Pedro vai morar com o pai, em Montevidéu — Uruguai.

1975 - Tendo como companheira de viagem a amiga Olga Borelli, participa do I Congresso Mundial de Bruxaria, em Bogotá, Colômbia. No dia de sua apresentação sente-se indisposta e pede a alguém que leia o conto O ovo e a galinha, não apresentando a fala sobre a magia que havia preparado para a introdução da leitura. Muito embora minimizada, essa participação tem muito a ver com as palavras ditas por Otto Lara Resende, conhecido escritor, em um bate-papo com José Castello: "Você deve tomar cuidado com Clarice. Não se trata de literatura, mas de bruxaria." Otto se baseava em estudos feitos por Claire Varin, professora de literatura canadense que escreveu dois livros sobre a biografada. Segundo ela, só é possível ler Clarice tomando seu lugar — sendo Clarice.  "Não há outro caminho", ela garante.  Para corroborar sua tese, Claire cita um trecho da crônica A descoberta do mundo, onde a escritora diz: "O personagem leitor é um personagem curioso, estranho. Ao mesmo tempo que inteiramente individual e com reações próprias, é tão terrivelmente ligado ao escritor que na verdade ele, o leitor, é o escritor." Traduz romances, como "Luzes acesas", de Bella Chagall, "A rendeira", de Pascal Lainé, e livros policiais de Agatha Christie. Ao longo da década, faz adaptações de obras de Julio Verne, Edgar Allan Poe, Walter Scott e Jack London e Ibsen. Lança Visão do esplendor, com trabalhos já publicados na coluna "Children's Corner", da revista "Senhor" e também no "Jornal do Brasil". Publica De corpo inteiro, com algumas entrevistas que fizera anteriormente para revistas cariocas. É muito elogiada quando visita Belo Horizonte, fato que a deixa contrariada. Passa a dedicar-se à pintura. Morre, dia 28 de novembro, seu grande amigo e compadre Erico Verissimo. Reúne trabalhos de Andréa Azulay num volume artesanal ilustrado por Sérgio Mata, intitulado "Meus primeiros contos". Andréa tinha, então, dez anos de idade.

1976 - Seu filho Paulo casa-se com Ilana Kauffmann. Participa, em Buenos Aires, Argentina, da Segunda Exposición — Feria Internacional del Autor al Lector, onde recebe muitas homenagens. É agraciada, em abril, com o prêmio concedido pela Fundação Cultural do Distrito Federal, pelo conjunto de sua obra. Grava depoimento no Museu da Imagem e do Som, no Rio de Janeiro, em outubro, conduzido por Affonso Romano de Sant'Anna, Marina Colasanti e por João Salgueiro, diretor do MIS. Em maio, corre o boato de que a escritora não mais receberia jornalistas. José Castello, biógrafo e escritor, nessa época trabalhando no jornal "O Globo", mesmo assim telefona e consegue marcar um encontro. Após muitas idas e vindas é recebido. Trava então o seguinte diálogo com Clarice:

J.C. "— Por que você escreve?

C.L. "— Vou lhe responder com outra pergunta: — Por que você bebe água?"

J.C. "— Por que bebo água? Porque tenho sede."

C.L. "— Quer dizer que você bebe água para não morrer. Pois eu também: escrevo para me manter viva."

Enquanto escreve A hora da estrela com a a ajuda da amiga Olga, toma notas para o novo romance, Um sopro de vida. Revê Recife e visita parentes. Em dezembro, "Fatos e Fotos Gente", revista do grupo "Manchete", publica entrevista feita com a artista Elke Maravilha, a primeira de uma série que se estenderia até outubro de 1977.

1977 - A revista "Fatos e Fotos Gente" publica, em janeiro, entrevista feita pela escritora com Mário Soares, primeiro-ministro de Portugal. O jornal "Última Hora" passa a publicar, a partir de fevereiro, semanalmente, as suas crônicas. Ainda nesse mês, é entrevistada pelo jornalista Júlio Lerner para o programa "Panorama Especial", TV Cultura de São Paulo, com o compromisso de só ser transmitida após a sua morte. Escreve um livro para crianças, que seria publicado em 1978, sob o título Quase de verdade. Escreve, ainda, doze histórias infantis para o calendário de 1978  da fábrica de brinquedos "Estrela", intitulado Como nasceram as estrelas. Vai à França e retorna inesperadamente. Publica A hora da estrela, pela José Olympio, com introdução — "O grito do silêncio" — de Eduardo Portella. Esse livro seria adaptado para o cinema, em 1985, por Suzana Amaral. A editora Ática lança nova edição de A legião estrangeira, com prefácio de Affonso Romano de Sant'Anna. Clarice morre, no Rio, no dia 9 de dezembro de 1977, um dia antes do seu 57° aniversário vitimada por uma súbita obstrução intestinal, de origem desconhecida que, depois, veio-se a saber, ter sido motivada por um adenocarcinoma de ovário irreversível.  O enterro aconteceu no Cemitério Comunal Israelita, no bairro do Caju, no dia 11. Vai ao ar, pela TV Cultura, no dia 28/12, a entrevista gravada em fevereiro desse ano.

1978 - Três livros póstumos são publicados: o romance Um sopro de vida — Pulsações, pela Nova Fronteira, a partir de fragmentos em parte reunidos por Olga Borelli; o de crônicas  Para não esquecer, e o infantil,  Quase de verdade, em volume autônomo, pela Ática. Para não esquecer é composto de crônicas que haviam sido publicadas na segunda parte do livro A legião estrangeira, em 1964, que compunham a seção "Fundo de Gaveta" do citado livro. A hora da estrela é agraciada com o prêmio Jabuti de "Melhor Romance". A paixão sendo G. H. é publicada na França, com tradução de Claude Farny.

1979 - É publicado A bela e a fera, pela Nova Fronteira, contendo contos publicados esparsamente em jornais e revistas. Estréia, no teatro Ruth Escobar, em São Paulo, Um sopro de vida, baseado em livro de mesmo nome, com adaptação de Marilena Ansaldi e direção de José Possi Neto.

1981 - "Clarice Lispector — Esboço para um retrato", de Olga Borelli, é lançado pela Nova Fronteira.

1984 - Reunindo a quase totalidade de crônicas publicadas no Jornal do Brasil, no período de 1967 a 1973, é lançado "A descoberta do mundo", organização de Paulo Gurgel Valente, filho da autora. A Éditions des Femmes, da França, lança, em sua coleção "La Bibliotèque des voix", fita cassete com trechos de La passion selon G. H., lidos pela atríz Anouk Aimée.

1985 - A hora da estrela recebe dois prêmios na 36ª edição do Festival de Berlim: da Confederação Internacional de Cineclubes — Cicae, e da Organização Católica Internacional do Cinema e do Audiovisual — Ocic. O longa-metragem de mesmo nome, dirigido por Suzana Amaral, com roteiro de Alfredo Oros também é premiado: Marcélia Cartaxo recebe o Urso de Prata de "Melhor Atriz".

Outros acontecimentos

Os 10 anos da morte da escritora são lembrados com diversas homenagens em sua memória. É aberto ao público o conjunto de documentos que viria a constituir o Arquivo Clarice Lispector do Museu de Literatura Brasileira da Fundação Casa de Rui Barbosa - FCRB, no Rio de Janeiro, constituído de documentos doados por Paulo Gurgel Valente.

Em 1990, a Francisco Alves Editora inicia a reedição da obra da escritora. A paixão segundo G. H. é encenada na capital francesa, no teatro Gérard Philippe, em montagem de Alain Neddam. Diane E. Marting, em 1993, publica "Clarice Lispector. A Bio-Bibliography", pela Westport: Greenwood Press, nos Estados Unidos. Em 1996, é lançada a antologia "Os melhores contos de Clarice Lispector", pela editora Global.

Estreia no Rio de Janeiro "Clarice — Coração selvagem", adaptado e dirigido por Maria Lúcia Lima, com Aracy Balabanian, em 1998.

No ano seguinte, "Que mistérios tem Clarice", adaptado por Luiz Arthur Nunes e Mário Piragibe estréia no teatro N. E. X. T.

Fernando Sabino, em 2001, organiza e publica, pela Record, "Cartas perto do coração", contendo correspondência que manteve com a escritora de 1946 a 1969.

A editora Rocco lança, em 2002, "Correspondências — Clarice Lispector", antologia de cartas de e para a escritora, seleção de Teresa Monteiro.

No aniversário de Clarice, 10/12/2002, a Embaixada do Brasil na Ucrânia e a Prefeitura de Tchetchelnik se associam em homenagem à memória da escritora, inaugurando uma placa com dados biográficos  gravados em russo e em português, que é afixada na entrada da sede da administração municipal.

Em 2004, os manuscritos de A hora da estrela e parte dos livros que pertenciam à biblioteca pessoal de Clarice Lispector são confiadas por Paulo Gurgel Valente à guarda do Instituto Moreira Salles, que lança, em dezembro, edição especial dos "Cadernos de Literatura Brasileira", dedicada à vida e à obra da autora.

Em artigo publicado no jornal "The New York Times", no dia 11/03/2005, a escritora foi descrita como o equivalente de Kafka na literatura latino-americana. A afirmação foi feita por Gregory Rabassa, tradutor para o inglês de Jorge Amado, Gabriel García Márquez, Mario Vargas Llosa e de Clarice. No dia 13/01, foi discutido o viés judaico na obra da autora no Centro de História Judaica em Nova York.

O Consulado-Geral do Brasil em Córdoba - Argentina, participou, em 2007, de homenagem, dos alunos do 6º ano do nível médio, à escritora Clarice Lispector. O fato mereceu destaque na página de divulgação de eventos culturais do Ministério das Relações Exteriores. Naquela cidade encontram-se 47 escolas que ensinam a Língua Portuguesa e aspectos da cultura e literatura brasileira. O Consulado-Geral também conta com uma pequena biblioteca, que atende ao público interessado nesses assuntos, embora não haja ali nenhuma obra da citada escritora. No entanto, têm sido publicadas, nos últimos tempos, notas sobre a vida e a obra de Clarice Lispector, na imprensa local.

Dados extraídos do site: www.releituras.com

Biografia: Ana Maria Machado

http://editora.cosacnaify.com.br/Upload/Participante/1/2/7/2/ana_maria_machado.jpgSexta ocupante da Cadeira nº 1, eleita em 24 de abril de 2003, na sucessão de Evandro Lins e Silva e recebida em 29 de agosto de 2003 pelo acadêmico Tarcísio Padilha.

Ana Maria Machado nasceu em Santa Teresa, Rio de Janeiro, a 24 de dezembro de 1941. É casada com o músico Lourenço Baeta, do quarteto Boca Livre, tendo o casal uma filha. Do casamento anterior com o médico Álvaro Machado, Ana Maria teve dois filhos.

Estudou no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e no MoMa de Nova York, tendo participado de salões e exposições individuais e coletivas no país e no exterior, enquanto fazia o curso de Letras (depois de desistir do curso de Geografia). Formou-se em Letras Neolatinas, em 1964, na então Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, e fez estudos de pós-graduação na UFRJ.

Deu aulas na Faculdade de Letras na UFRJ (Literatura Brasileira e Teoria Literária) e na Escola de Comunicação da UFRJ, bem como na PUC-Rio (Literatura Brasileira). Além de ensinar nos colégios Santo Inácio e Princesa Isabel, no Rio, e no Curso Alfa de preparação para o Instituto Rio Branco, também lecionou em Paris, na Sorbonne (Língua Portuguesa) e na Universidade de Berkeley, Califórnia – onde já havia sido escritora residente.

No final de 1969, depois de ser presa pelo governo militar e ter diversos amigos também detidos, deixou o Brasil e partiu para o exílio. Na bagagem para a Europa, levava cópias de algumas histórias infantis que estava escrevendo, a convite da revista Recreio. Lutando para sobreviver com seu filho Rodrigo ainda pequeno, trabalhou como jornalista na revista Elle em Paris e no Serviço Brasileiro da BBC de Londres, além de se tornar professora de Língua Portuguesa na Sorbonne. Nesse período, participou de um seleto grupo de estudantes na École Pratique des Hautes Études cujo mestre era Roland Barthes, e terminou sua tese de doutorado em Linguística e Semiologia sob a sua orientação, em Paris, onde nasceu seu filho Pedro. A tese resultou no livro Recado do Nome, sobre a obra de Guimarães Rosa.

Como jornalista, trabalhou no Correio da Manhã, no Jornal do Brasil, no O Globo, e colaborou com as revistas Realidade, IstoÉ e Veja e com os semanários O Pasquim, Opinião e Movimento. Durante sete anos, chefiou o jornalismo do Sistema Jornal do Brasil de Rádio. Criou e dirigiu por 18 anos, com duas sócias, a primeira livraria do país especializada em livros infantis, a Malasartes. Também foi editora, uma das sócias da Quinteto Editorial.  Há 25 anos vem exercendo intensa atividade na promoção da leitura e fomento do livro, tendo dado consultorias, seminários da UNESCO em diferentes países e sido vice-presidente do IBBY (International Board on Books for Young People).

Escondida por um pseudônimo, ganhou o prêmio João de Barro pelo livro História Meio ao Contrário, em 1977. Abandonou o jornalismo em 1980, para a partir de então se dedicar ao que mais gosta: escrever seus livros, tantos os voltados para adultos como os infantis. Sua filha Luísa nasceu em 1983. Em 1993 a acadêmica se tornou hors concours dos prêmios da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ).

Recebeu vários prêmios no país e no exterior, entre eles o Casa de Las Americas (Cuba, 1980), Personalidade Cultural (União Brasileira de Escritores, 1981), Prêmio CREFISUL de Literatura (Banco Crefisul de Investimento e Jornal de Letras, 1981), Personalidade Cultural (União Brasileira de Escritores, 1994), Prêmio Adolfo Aizen (Literatura infantil e conjunto da obra, União Brasileira dos Escritores, 1994); Prêmio Internacional José Marti, "Menção Especial" (Conjunto da Obra, Costa Rica, 1995),  Prêmio Hans Christian Andersen, internacional (Conjunto da obra infantil, 2000), Prêmio Jornalista Amigo da Infância (Agência de Notícias dos Direitos da Infância, Brasília, 2001), Prêmio Machado de Assis (Conjunto da obra, Academia Brasileira de Letras, 2001), Personalidade  Cultural Internacional (União Brasileira de Escritores, 2003), Prêmio Vento Forte (Teatro Infantil, 2004), Prêmio Mulher da Paz (Associação Mil Mulheres para o Nobel da Paz, Suíça, 2005), Prêmio Ibero Americano de Literatura Infantil e Juvenil - "Hors Concours" (Fundação SM, 2006), Mulher do Ano (Conselho Nacional de Mulheres do Brasil, 2006), Mérito Cultural (Academia Brasileira de Filologia e Faculdade CCAA, 2007), Prêmio Lifetime Achievement Award (Miami, 2007), Prêmio de Cultura do Rio de Janeiro (2010) e Príncipe Claus (Holanda, 2010). Foi agraciada também com o Prêmio Machado de Assis da Biblioteca Nacional, para romance, e recebeu, em alguns casos mais de uma vez, prêmios como: Jabuti, Prêmio Bienal de SP, João de Barro, APCA, Cecília Meireles, O Melhor para o Jovem, O Melhor para a Criança, Otávio de Faria, Adolfo Aizen, e menções no APPLE (Association Pour la Promotion du Livre pour Enfants, Instituto Jean Piaget, Génève), no FÉE (Fondation Espace Enfants, Suíça) e Americas Award (Estados Unidos).

Obras premiadas

ABC do Brasil
- Altamente Recomendável – Informativo – FNLIJ, 2010

Abrindo o caminho
- Altamente Recomendável -  Criança -  FNLIJ, 2003.
- Prêmio Ofélia Fontes – “Hors Concours” - Melhor para Criança, -  FNLIJ, 2003.
- Seleção White Ravens / Munique,  2005.

Alguns medos e seus segredos
- Altamente Recomendável – Criança - FNLIJ, 1984.

Amigos secretos
- Altamente Recomendável -  Jovem -  FNLIJ, 1996.

Aos quatro ventos
- Prêmio Otávio de Faria - Melhor romance do ano - União Brasileira de Escritores, 1994.
- Finalista do prêmio Jabuti, Câmara Brasileira do Livro, 1994.

A audácia dessa mulher
- Prêmio Machado de Assis, Biblioteca Nacional, 1999.

Balaio: livros e leituras
- Altamente Recomendável -  Teórico -  FNLIJ, 2007.

Beijos mágicos
- Prêmio Espace Enfant, Instituto Jean Piaget, Suíça, 1998.

Bem do seu tamanho
- Prêmio Fernando Chinaglia, União Brasileira de escritores, 1979.
- Altamente Recomendável, FNLIJ, 1979.

Bento-que-Bento-é-o-Frade
- Altamente Recomendável -  Criança -  FNLIJ, 1977.

Bisa Bia, Bisa Bel
- Prêmio Maioridade Crefisul -  para originais inéditos -  1981.
- Melhor livro infantil do ano,  Associação Paulista de Críticos de Arte, 1982.
- Selo de Ouro - Melhor livro  juvenil do ano -  FNLIJ, 1982.
- Prêmio Jabuti, Câmara Brasileira do Livro ,1983.
- Lista de Honra do IBBY, 1984.
- Prêmio Noroeste  -  Melhor livro Infantil do biênio -  Bienal de São Paulo, 1984.
- Nova Escola - Os 40 Livros Essenciais -  1996.
- Américas Award for Children's and Young Adult Literature, Consortium of Latin American Studies Programs (CLASP), 2003.

Camilão, o comilão
- Fundalectura - Altamente Recomendável -   Bogotá / Colômbia, 1996.

O canto da praça
- Altamente Recomendável -  Jovem -  FNLIJ, 1986.
- Prêmio Bienal de São Paulo - Melhor obra juvenil do biênio -  1988.

O cavaleiro do sonho: as aventuras e desventuras de Dom Quixote De La Mancha
- Altamente Recomendável -  Reconto - FNLIJ, 2005.
- Prêmio Figueiredo Pimentel, “Hors Concours” -  Melhor livro Reconto -  FNLIJ, 2006.

Clássicos de verdade: mitos e lendas greco-romanos
- Altamente Recomendável -  Reconto, Tradução e Adaptação, 2006.

Como e por que ler os clássicos universais desde cedo
- Altamente Recomendável -  Teórico -  FNLIJ, 2002.
- Prêmio Cecilia Meireles -  Melhor livro Teórico - FNLIJ, 2003.

Contracorrente
- Altamente Recomendável -  Teórico – FNLIJ, 1992.
- Prêmio ALIJA, Buenos Aires, 1999.
- Altamente Recomendável – Teórico -  FNILIJ, 1999.
- Premio Cecilia Mireles - Melhor livro Teórico -  FNLIJ, 1999.

De carta em carta
- Prêmio Ofélia Fontes – “Hors Concours” -  Melhor livro  Criança -  FNLIJ, 2002.
- Altamente Recomendável -  Criança -  FNLIJ, 2002.

De fora da arca
- Prêmio Cocori – para inéditos - “Menção de Honra” -  Ministério da Cultura de Costa Rica, 1993.
- Menção especial – “Hors Concours” - para originais inéditos - União Brasileira de Escritores, 1994.

De olho nas penas
- Prêmio Casa de las Américas -  Literatura Brasileira -  Havana/Cuba, 1981.
- Melhor Livro Infantil do ano, Associação Paulista de Críticos de Arte, 1981.
- Selo de Ouro -  Melhor Livro Juvenil do ano - FNLIJ, 1981.

Democracia: cinco princípios e um fim
- Altamente Recomendável -  Informativo -  FNLIJ 1996.

Dia de chuva
- Altamente Recomendável -  Criança -  FNLIJ, 2002.
- “Hors Concours”, FNLIJ 2003.

Era uma vez três
- Prêmio Associação Paulista de Críticos de Arte, 1980.

Fiz voar o meu chapéu
- Altamente Recomendável -  Criança -  FNLIJ, 1999.
- Prêmio Ofélia Fontes, “Hors Concours” -  Criança -  FNILIJ, 1999.
- Prêmio Jabuti, 2000.

O gato do mato e o cachorro do morro
- Prêmio “Melhores do Ano”, Biblioteca Nacional da Venezuela, 1981.

História meio ao contrário
- Prêmio João de Barro, Prefeitura de Belo Horizonte, 1977.
- Prêmio Jabuti, Câmara Brasileira do Livro, 1978.
- Lista "Melhores do Ano", Fundalectura, Bogotá, 1994.

Histórias à brasileira 1: a Moura Torta
- Prêmio Figueiredo Pimentel, “Hors Concours” – Reconto -  FNLIJ, 2002.
- Altamente Recomendável -  Reconto -  FNLIJ, 2002.

Histórias à brasileira 2: Pedro Malasartes
- Altamente Recomendável -  Reconto -  FNLIJ, 2004.

Hoje tem espetáculo
- Prêmio Dramaturgia Infantil, Fundação Teatro Guaíra, Paraná, 1979.

Ilhas no tempo: algumas leituras
- Altamente Recomendável -  Teórico -   FNLIJ, 2004.

Isso ninguém me tira
- Altamente Recomendável -  Jovem, FNLIJ, 1994.
- Prêmio Reconocimiento, Toluca, México, 2003.

A jararaca, a perereca, a tiririca
- Prêmio Alejandro Cabassa, “Hors Concours”, União Brasileira de Escritores, 2000.

Melusina, a dama dos mil prodígios
- Altamente Recomendável -  Reconto -  FNLIJ, 2000.

Menina bonita do laço de fita
- Menção honrosa do Prêmio Bienal de São Paulo, uma das cinco melhores obras do biênio, 1988.
- Biblioteca Nacional – “Melhores do Ano” – Caracas, 1995. 
- Fundalectura - Altamente Recomendável –  Bogotá/Colômbia, 1996.
- Prêmio ALIJA - Melhor Livro  Infantil Latino-americano -  Buenos Aires, 1996.
- Prêmio Americas - Melhores livros latinos nos EUA – 1997.
-  Prix Octogone – França, 2004;

O menino e o maestro
- Altamente Recomendável -  Criança -  FNLIJ, 2006.
- Seleção White Ravens / Munique, 2007.

O menino Pedro e seu boi voador
- Altamente Recomendável -  Criança -  FNLIJ, 1980.
- Lista de Honra do IBBY, 1982.

O menino que virou escritor
- Altamente Recomendável -  CRIANÇA -  FNLIJ, 2001.

Mensagem para você
- Altamente Recomendável – Jovem – FNLIJ, 2009.

Mistérios do mar oceano
- Altamente Recomendável -  Jovem -  FNLIJ, 1992.

Na praia e no luar, tartaruga quer o mar
- Altamente Recomendável – Informativo -  FNLIJ, 1992.

No barraco do carrapato
-  Altamente Recomendável  -  Criança -  FNLIJ, 1985.

Palavra de honra
- Prêmio Alejandro Cabassa, União Brasileira de Escritores, 2006.

Palavras, palavrinhas, palavrões
- Prêmio APPLE, Instituto Jean Piaget, Genebra / Suiça, 1988.

Para sempre
- Prêmio - Ficção – União Brasileira de Escritores, 2002.

Ponto a ponto
- Altamente Recomendável -  Criança -  FNLIJ, 1998.

Portinholas
- Altamente Recomendável -  Criança - FNLIJ, 2003.

A princesa que escolhia
- Altamente Recomendável – Criança -  FNLIJ, 2006.

Procura-se lobo
- Prêmio Ofélia Fontes, “Hors Concours” -  melhor livro para crianças -  FNLIJ, 2005.
- Altamente Recomendável -  Criança -  FNLIJ, 2005.

Raul da ferrugem azul
- Selo de Ouro -  Melhor Livro infantil do ano -  FNLIJ, 1979.

Romântico, sedutor e anarquista
- Altamente Recomendável -  Teórico -  FNLIJ, 2006.

Sinais do mar
- Seleção White Ravens / Munique, 2009.

O tesouro das cantigas para crianças
- Altamente Recomendável – Reconto -  FNLIJ, 2001.

Texturas
- Prêmio Cecilia Meireles, FNLIJ,2001.
- Altamente Recomendável -  Teórico -  FNLIJ, 2001.

Um avião, uma viola
- Altamente Recomendável, FNLIJ, 1982.
- Prêmio Noma - Ilustração -  Japão, 1982.

Um heroi fanfarrão e sua mãe bem valente 
- Altamente Recomendável -  Criança -  FNLIJ, 1994.

Uma vontade louca
- Altamente Recomendável -  Jovem -  FNLIJ, 1990.
Curvo ou reto - Olhar secreto
Com Luisa Baeta. Rio de Janeiro: Global Editora, 2010

Curvo ou reto - Olhar secreto
- Altamente Recomendável -  Jovem -  FNLIJ, 1990.
Curvo ou reto - Olhar secreto
Com Luisa Baeta. Rio de Janeiro: Global Editora, 2010

Traduções

Alice no país das maravilhas,
- Altamente Recomendável -  Tradução para Criança -  FNLIJ, 1997.

Belo trabalho lobinho
- Altamente Recomendável -  Tradução para Criança -  FNLIJ1999.

Café Van Gogh
- Altamente Recomendável - Tradução Jovem - FNILIJ, 1998.

O califa cegonha
- Altamente Recomendável -  Tradução e Adaptação Teórico para  Jovem -  FNLIJ, 2007.

Clássicos de verdade: mitos e lendas greco-romanos
- Altamente Recomendável – Reconto – FNLIJ, 2006

Cuidado com o menino
- Altamente Recomendável -  Tradução para Criança -  FNLIJ, 1999.

Duas vidas, dois destinos
- Prêmio Monteiro Lobato – Melhor Tradução para Jovem -  FNLIJ, 1998.

Esportes e jogos
- Altamente Recomendável -  Tradução Informativo -  FNLIJ, 2001.

O jardim secreto
- Altamente Recomendável -  melhor texto traduzido, FNLIJ, 1993.

A joaninha rabugenta
- Altamente Recomendável –  Tradução para Criança -  FNLIJ, 1998.

Lineia no jardim de Monet
- Altamente Recomendável – Melhor Texto Traduzido -  FNLIJ, 1992.

Maia
- Lista de Honra do IBBY, 1982.

A maldição da coruja
- Altamente Recomendável -  Tradução para Jovem -  FNLIJ, 1999.

Melusina: Dama dos mil prodígios
- Altamente Recomendável -  Reconto – FNLIJ, 2000

O mestre das marionetes
- Altamente Recomendável - Tradução para jovem -  FNILIJ, 1999.

Meu cachorro é um elefante
- Altamente Recomendável – Tradução, Adaptação para  Criança – FNLIJ, 2009.

Minha irmã Sherazade: contos das mil e uma noites
- Altamente Recomendável -  Tradução para Criança -  FNLIJ, 2001.

Outroso: Um outro mundo
- Altamente Recomendável - Tradução para jovem, FNLIJ, 1999.
- Prêmio Monteiro Lobato – Melhor Texto para Jovem – FNLIJ, 1999.

Peter Pan
- Altamente Recomendável - Melhor Texto  traduzido,  FNLIJ, 1992.
-  Lista de Honra do IBBY, 1994.

Ponte para Terabítia
- Altamente Recomendável - Tradução para Jovem -  FNLIJ, 2000.

Que sexta-feira mais pirata!
- Altamente Recomendável - Tradução para Jovem -  FNLIJ, 1994.

A redação
- Altamente Recomendável -- “Hors Concours” -  Tradução para Criança -  FNLIJ, 2003.

Série, mitos e lendas (A cavalaria, o Egito)
- Altamente Recomendável -  Informativo -   FNILIJ, 1993.

Simbad: uma história de mil e uma noites
- Altamente Recomendável - Tradução para Criança - FNLIJ, 2000.

Uma história de Natal
- Altamente Recomendável -  Tradução para Jovem -  FNLIJ, 1995.

É membro do PEN Clube do Brasil e do Seminário de Literatura da Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Recebeu a Ordem do Mérito Cultural, no grau de Grão-Mestre, a Medalha Tiradentes e a Grande Ordem Cultural da Colômbia. Membro da Academia Brasileira de Letras desde 2003.

Publicou mais de cem livros no Brasil, muitos deles traduzidos em cerca de vinte países.

FIZ VOAR O MEU CHAPÉU
Fiz voar o meu chapéu,
acertei no coronel.

O Coronel se assustou,
no riacho despencou.

O riacho foi embora,
nem reparou na Senhora.

A Senhora deu chilique,
quem salvou foi o cacique.

Cacique chamou Peri,
que pescava lambari.
Lambari fugiu ligeiro,
nem esperou marinheiro.

Marinheiro deu fricote,
saiu remando num bote.

O bote deu tremedeira,
despencou na cachoeira.

Cachoeira foi pro mar,
pela praia a se espalhar.

Se espalhou até o barraco
onde mora o Zé Macaco.

Macaco deu gargalhada
e chamou a namorada.

Lá veio dona Gabola,
de bolsa, xale e gaiola.

Mas a gaiola se abriu
e passarinho fugiu.

Voa, voa, passarinho,
vai de volta pro seu ninho...

No ninho os quatro filhotes
festejaram aos pinotes.

E cantaram numa banda,
no seu ninho com varanda.

Viva Peri, viva o Mico,
a Senhora e o Coronel!

Viva mais o tico-tico
que fez ninho em meu chapéu!

Dados extraídos do site: www.academia.org.br