sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Um ano sem minha Rainha

Saudades de minha mãe.
Sua morte faz um ano e um fato
Essa coisa fez
eu brigar pela primeira vez
com a natureza das coisas:
que desperdício, que descuido
que burrice de Deus!
Não de ela perder a vida
mas a vida de perdê-la.
Olho pra ela e seu retrato.
Nesse dia, Deus deu uma saidinha
e o vice era fraco.

Saudade de Mãe
Coloquei o filtro da arte naquela cena comum, e a luz - que até então estava escondida -, veio surpreender-me com seu poder de claridade. A mulher simples, mãos calejadas de lida rotineira, mulher que aprendeu a curar as dores do mundo a partir de meus joelhos esfolados de quedas e estrepolias. Aquela mulher, minha mãe, rosto iluminado pela labareda que tinha origem no fogão de lenha.   Trazia consigo o dom de me devolver a calma, que a vida tantas vezes insistiu em me roubar. Aquela cena: mulher, fogão de lenha, panela preta escondendo a brancura de um arroz feito na hora. É uma das cenas mais preciosas que meu coração não soube esquecer. Saudade de mãe é coisa sem jeito, chega quando menos imaginamos: um cheiro, uma melodia, uma palavra... uma imagem, e eis que o cordão do tempo, nos convida ao retorno da infância. Como se um fio nos costurasse de novo ao colo da mulher que primeiro nos segurou na vida e agora nos pudesse regenerar.  Saudade de mãe é ponte que nos favorece um retorno a nós mesmos; travessia que borda uma identidade muitas vezes esquecida, perdida na pressa que nos leva. Saudade de mãe é devolução, é ato que restitui o que se parte; é luz que sinaliza o local do porto, é voz no ouvido a nos acalmar nas madrugadas de desespero e solidão, através de uma frase simples: Dorme meu filho! Dorme!  Hoje, nesse dia em que a vida me fez criança de novo, neste instante em que esta cena feliz tomou conta de mim, uma única palavra eu quero dizer: Oh minha mãe, que saudade eu sinto de você!

Padre Fábio de Mello