Faculdades Integradas Teresa D’Ávila - FATEA
Faculdade de Pedagogia
Alcione Aparecida Almeida da Costa
Projeto:
Personagem
histórico do Vale do Paraíba
Depoimento oral e
transcrição
Lorena,
2011
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Faculdades Integradas Teresa D’Ávila - FATEA
Faculdade de Pedagogia
Alcione Aparecida Almeida da Costa
Projeto:
Personagem
histórica do Vale do Paraíba
|
Lorena, 2011
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Tema: Personagem Histórico de Aparecida
Objetivo Geral: Colher depoimento de um parente
próximo de um personagem
histórico do Vale do
Paraíba como resgate da história.
Objetivo Específico:
- Ouvir relatos sobre o personagem;
- Colher
dados sobre sua história;
- Comparar e relacionar a história de vida do
personagem
com o
passado.
Participante: Um indivíduo da família.
Justificativa: Para que a história seja um resgate
de valor é preciso que haja
um levantamento de dados sobre o personagem
escolhido.
Dessa forma ele será
resgatado na história e terá valorização
como indivíduo que fez
parte de um determinado período.
A história é feita a partir de cada um de nós.
Somos parte de um todo. No entanto a história parece por vezes distante e
maçante, portanto, para incentivarmos nossos alunos a vê-la como algo real e
próxima a eles, projetos como este são importantes, fazer com que eles vejam
que seus pais, avós, vizinhos a construíram e que eles mesmos são parte dela.
Construindo o futuro através do presente, modificando, participando, alterando,
mesmo que não se tenha consciência plena disso.
Desenvolvimento: O projeto será aplicado em um
indivíduo da família por
meio de
entrevista que será transformado em relato.
Portanto, será
aplicado em uma única vez por meio de
coleta de
dados.
Avaliação: Será por meio da participação do
entrevistado.
Entrevista
Entrevistadora: Alcione
Aparecida Almeida da Costa
Entrevistado: Luiz Cláudio de Paiva
Local
da entrevista: Rua Dr. César Segaud, nº 66; Bairro: São Sebastião – Aparecida –
SP
O
entrevistado é filho do personagem histórico da cidade de Aparecida, José
Ribeiro de Paiva, “Seu” Zé da Correntinha.
Entrevistadora: Como se chamava seu pai?
Entrevistado: José Ribeiro de Paiva.
Entrevistadora: Onde nasceu e em que ano?
Entrevistado: Nasceu em Passa Quatro no ano de
1934, mas veio para Aparecida aos dez anos de idade e aqui ficou até o final de
sua vida. Ele morreu em 1998.
Entrevistadora: Mas como ele veio para Aparecida?
Entrevistado:
Veio por meio de um circo que estava de passagem, porque sua família era de ciganos,
então seus pais deixaram ele viver em Aparecida.
Entrevistadora: Como se chamava a esposa dele?
Entrevistado: Rosária Cândida Marcelino de Paiva.
Entrevistadora: Quantos filhos tiveram?
Entrevistado: Tiveram treze filhos, mas somente
seis sobreviveram: Márcia, Zilda, Luiz Cláudio, Sueli, Benedito e Biraci; os
restantes morreram ao nascer.
Entrevistadora: Onde trabalhava e como você acha que
seu pai marcou a história de Aparecida?
Entrevistado: Meu pai começou a trabalhar em
Aparecida com quinze anos. Foi o primeiro vendedor ambulante a trabalhar em
frente à Basílica Velha. Quando ele começou, a praça de Nossa Senhora Aparecida
ainda não era asfaltada, o chão era de terra e os romeiros vinham a cavalo ou
em romarias feitas a pé ou de caminhão. Meu pai começou vendendo fitinhas com o
nome de Nossa Senhora Aparecida na praça; depois passou a vender com a medalha
de Nossa Senhora Aparecida e foi dessa maneira que ganhou o apelido de “Seu” Zé
da Correntinha, nome pelo qual ficou conhecido na Praça de Aparecida e em toda
a cidade, por todos os moradores. Com o passar dos anos também passou a vender
bilhetes de loteria.
Entrevistadora: E como os comerciantes e os moradores
o viam?
Entrevistado: Como uma pessoa boa, honesta e
trabalhadora que trabalhava todos os dias em frente à Basílica e que ajudava as
pessoas, inclusive os romeiros que se perdiam na cidade, era um senhor muito
educado.
Entrevistadora: O que mais marcava a figura do “Seu”
Zé da Correntinha?
Entrevistado: Era sua bolsa (“bornal”) verde cheia
de mercadoria em suas mãos e o fato de ser sempre alegre e estar sorrindo para
todos.
Entrevistadora: Em sua carreira como ambulante chegou
a ser entrevistado alguma vez?
Entrevistado: Sim, como ele ficava na praça todos
os dias a revista Manchete em 1995, chegou a fazer uma entrevista em que ele
aparecia na página 48.
Entrevistadora: E o que eles queriam saber dele?
Entrevistado: Sobre sua vida, sua história e porque
ele era o ambulante mais antigo da Praça Nossa Senhora Aparecida.
Entrevistadora: Do que o seu pai não gostava?
Entrevistado: Ele não gostava de ficar em casa,
levantava cedo e já ia trabalhar na praça.
Entrevistadora: Ele chegou a realizar algum sonho?
Entrevistado: Sim, ele conseguiu, com seu trabalho
de ambulante, comprar este terreno, onde todos os filhos moram, e construir
esta casa.
Entrevistadora: É difícil para você ir à praça já que
lá deve ser bem forte a lembrança do seu pai?
Entrevistado: Não, gosto de ir lá justamente por
causa disso, por lembrar dele lá, ouvir todos me dizerem como sentem saudades
do “Seu” Zé da Correntinha sempre com sua bolsa verde ao lado, partilhar
recordações daquele homem simples, puxando de uma perna e que mesmo cansado
pela idade sempre ia trabalhar.
Entrevistadora: Ah, ele “puxava” de uma perna?
Entrevistado: Sim, quando ele tinha quinze anos foi
atropelado por um carro na praça em frente à Basílica. Mas isso nunca tirou a
vontade dele de trabalhar ou a alegria de viver.
Entrevistadora: Como você resume seu pai como
personagem histórico de Aparecida?
Entrevistado: Trabalhador, ambulante, guerreiro e
vencedor.
Entrevistadora: O que você diria para ele se ele
ainda estivesse vivo?
Entrevistado: Pai, você foi e é o nosso maior
personagem, você fez parte de nossas vidas e da vida da cidade de Aparecida.
Entrevistadora: Ok! Obrigada pela entrevista.
Entrevistado: Eu é que agradeço.
Depoimento: Foi para nós uma surpresa descobrir
que algo tão comum como os vendedores ambulantes em Aparecida (que sempre
pareceram estar lá) se iniciaram a partir da ideia de um único e simples homem
e nem faz tanto tempo assim. Como forma de ganhar a vida ele iniciou a tradição
de vender fitas e medalhinhas de Nossa Senhora e isso se ramificou e
diversificou criando trabalho e se tornando meio de sustento para centenas de
famílias. E apesar do passar do tempo perdura a memória desse homem simples,
trabalhador, honesto e simpático. Talvez algumas pessoas possam dizer que ele
não foi importante para a história mundial, mas a história não é feita só de
grandes personagens, isso é o mesmo que dizer que a Basílica tem a cúpula e a
torre, porque são elas que mais aparecem. Assim como a Basílica é feita de
milhares de pequenos tijolos, assim também a história é feita de pessoas
comuns, que a sustentam, e José Ribeiro de Paiva, ao falar de seu pai,“Seu” Zé
da Correntinha, nos mostrou isso.
Conto: Ao chegar em Aparecida, em 1944, Zé
se encantou com a cidade. Uma ideia se fixou na sua cabeça, ficar ali, largar a
vida do circo. Depois de muito conversar com sua família eles concordaram,
mesmo sabendo que isso o afastaria das tradições ciganas de seu povo.
Para ganhar a vida Zé começou a vender
fitas de Nossa Senhora aos romeiros em frente da Basílica velha e depois
correntinhas com a medalha de Nossa Senhora Aparecida, sempre levando suas
mercadorias dentro de seu “bornal” verde. Sua gentileza ao orientar as pessoas
perdidas, sua simpatia conquistavam os clientes. Trabalhava fizesse sol ou
chuva. E nem mesmo um atropelamento causado por um carro o deteve nessa jornada
diária. Teimoso e determinado, disse que ter uma perna menos ágil não o
atrapalhava em seu trabalho.
Conheceu Rosária e se apaixonou.
Determinado a construir uma vida segura para sua futura família, empenhou-se
ainda mais em seu trabalho, comprou um terreno, foi construindo uma casa, que
teve de aumentar à medida que os filhos vinham. Tiveram treze filhos, mas
somente seis sobreviveram: Márcia, Zilda, Luiz Cláudio, Sueli, Benedito e
Biraci. Os outros, ainda “anjinhos”, como se dizia antigamente, voltaram para
os braços de Deus. Zé (que a essa altura já tinha o apelido de “Seu” Zé da
Correntinha) criou os filhos centrados no mesmo modo de vida dele: trabalho,
honestidade, educação, bondade.
Viu outras pessoas começarem a ganhar
a vida fazendo tal como ele, trabalhando como vendedores ambulantes. O tempo
passava, os filhos cresceram, casaram, construíram casas no terreno do pai, que
tal como o seu coração, sempre estava pronto para abrigar mais um; chegaram os
netos, o tempo passava.
A revista Manchete em 1995
entrevistou-o, mas isso em nada mudou “Seu” Zé. Continuou levando sua vida
calmamente, nunca deixando de ir para seu ponto de trabalho até que, em 1998,
Deus achou por bem mudar seu local de trabalho da capital religiosa do Brasil
para o Céu.