Saudades
de minha mãe.
Sua morte
faz um ano e um fato
Essa coisa
fez
eu brigar
pela primeira vez
com a
natureza das coisas:
que
desperdício, que descuido
que
burrice de Deus!
Não de ela
perder a vida
mas a vida
de perdê-la.
Olho pra
ela e seu retrato.
Nesse dia,
Deus deu uma saidinha
e o vice
era fraco.
Saudade de Mãe
Coloquei o
filtro da arte naquela cena comum, e a luz - que até então estava escondida -,
veio surpreender-me com seu poder de claridade. A mulher simples, mãos
calejadas de lida rotineira, mulher que aprendeu a curar as dores do mundo a
partir de meus joelhos esfolados de quedas e estrepolias. Aquela mulher, minha
mãe, rosto iluminado pela labareda que tinha origem no fogão de lenha. Trazia consigo o dom de me devolver a calma,
que a vida tantas vezes insistiu em me roubar. Aquela cena: mulher, fogão de
lenha, panela preta escondendo a brancura de um arroz feito na hora. É uma das
cenas mais preciosas que meu coração não soube esquecer. Saudade de mãe é coisa
sem jeito, chega quando menos imaginamos: um cheiro, uma melodia, uma
palavra... uma imagem, e eis que o cordão do tempo, nos convida ao retorno da
infância. Como se um fio nos costurasse de novo ao colo da mulher que primeiro
nos segurou na vida e agora nos pudesse regenerar. Saudade de mãe é ponte que nos favorece um
retorno a nós mesmos; travessia que borda uma identidade muitas vezes
esquecida, perdida na pressa que nos leva. Saudade de mãe é devolução, é ato
que restitui o que se parte; é luz que sinaliza o local do porto, é voz no
ouvido a nos acalmar nas madrugadas de desespero e solidão, através de uma
frase simples: Dorme meu filho! Dorme!
Hoje, nesse dia em que a vida me fez criança de novo, neste instante em
que esta cena feliz tomou conta de mim, uma única palavra eu quero dizer: Oh
minha mãe, que saudade eu sinto de você!
Padre Fábio de Mello