"Eu escrevo
sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em
nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente
está querendo desabrochar de um modo ou de outro..."
1920 - Clarice Lispector
nasce em Tchetchelnik, na Ucrânia, no dia 10 de dezembro, tendo recebido o nome
de Haia Lispector, terceira filha de Pinkouss e de Mania Lispector. Seu
nascimento ocorre durante a viagem de emigração da família em direção à
América.
1922 - Seu pai
consegue, em Bucareste, um passaporte para toda a família no consulado da
Rússia. Era fevereiro quando foram para a Alemanha e, no porto de Hamburgo,
embarcam no navio "Cuyaba" com destino ao Brasil. Chegam a Maceió em
março desse ano, sendo recebidos por Zaina, irmã de Mania, e seu marido e primo
José Rabin, que viabilizara a entrada da biografada e de sua família no Brasil
mediante uma "carta de chamada".
Por iniciativa de seu pai, à exceção de Tania — irmã, todos mudam de
nome: o pai passa a se chamar Pedro; Mania, Marieta; Leia — irmã, Elisa; e
Haia, em Clarice. Pedro passa a trabalhar com Rabin, já um próspero
comerciante.
1925 - A família
muda-se para Recife, Pernambuco, onde Pedro pretende construir uma nova vida. A
doença de sua mãe, Marieta, que ficou paralítica, faz com que sua irmã Elisa se
dedique a cuidar de todos e da casa.
1928 - Passa a
freqüentar o Grupo Escolar João Barbalho, naquela cidade, onde aprende a ler.
Durante sua infância a família passou por sérias crises financeiras.
1930 - Morre a mãe de
Clarice no dia 21 de setembro. Nessa época, com nove anos, matricula-se no
Collegio Hebreo-Idisch-Brasileiro, onde termina o terceiro ano primário. Estuda
piano, hebraico e iídiche. Uma ida ao teatro a inspira e ela escreve "Pobre
menina rica", peça em três atos, cujos originais foram perdidos. Seu pai resolve adotar a nacionalidade
brasileira.
1931 - Inscreve-se para
o exame de admissão no Ginásio Pernambucano. Já escrevia suas historinhas,
todas recusadas pelo Diário de Pernambuco, que àquela época dedicava uma página
às composições infantis. Isso se devia ao fato de que, ao contrário das outras
crianças, as histórias de Clarice não tinham enredo e fatos — apenas sensações.
Convive com inúmeros primos e primas.
1932 - É aprovada no
exame de admissão e, junto com sua irmã Tania e sua prima Bertha, ingressa no
tradicional Ginásio Pernambucano, fundado em 1825. Passa a visitar a livraria
do pai de uma amiga. Lê "Reinações
de Narizinho", de Monteiro Lobato, que pegou emprestado, já que não podia
comprá-lo.
1933 - Seu pai prospera
e mudam-se para casa própria, no mesmo bairro.
1934 - Pedro, pai de
Clarice, em Dezembro desse ano, decide transferir-se para a cidade do Rio de
Janeiro.
1935 - Viaja para o
Rio, em companhia de sua irmã Tania e de seu pai, na terceira classe do vapor
inglês "Highland Monarch". Vão morar numa casa alugada perto do Campo
de São Cristóvão. Ainda nesse ano, mudam-se para uma casa na Tijuca, na rua
Mariz e Barros. No colégio Sílvio Leite, na mesma rua de sua casa, cursa o
quarta série ginasial. Lê romances adocicados, próprios para sua idade.
1936 - Termina o curso
ginasial. Inicia-se na leitura de livros de autores nacionais e estrangeiros
mais conhecidos, alugados em uma biblioteca de seu bairro. Conhece os trabalhos
de Rachel de Queiroz, Machado de Assis, Eça de Queiroz, Graciliano Ramos, Jorge
Amado, Dostoiévski e Júlio Diniz.
1937 - Matricula-se no
curso complementar (dois últimos anos do curso secundário) visando o ingresso
na Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil, hoje Universidade
Federal do Rio de Janeiro.
1938 - Transfere-se
para o curso complementar do colégio Andrews, na praia de Botafogo. Às voltas
com dificuldades financeiras, dá aulas particulares de português e matemática. A relação
professor/aluno seria um dos temas preferidos e recorrentes em toda a sua obra
— desde o primeiro romance: Perto do Coração Selvagem. Ao mesmo tempo, aprende
datilografia e faz inglês na Cultura Inglesa.
1939 - Inicia seus
estudos na Faculdade Nacional de Direito. Faz traduções de textos científicos
para revistas em um laboratório onde trabalha como secretária. Trabalha, também
como secretária, em um escritório de advocacia.
1940 - Seu conto, Triunfo,
é publicado em 25 de maio no semanário "Pan", de Tasso da Silveira.
Em outubro desse ano, é publicado na revista "Vamos Ler!", editada
por Raymundo Magalhães Júnior, o conto Eu e Jimmy. Esses trabalhos não fazem
parte de nenhuma de suas coletâneas. Após a morte de seu pai, no dia 26 de
agosto, a escritora — talvez motivada por esse acontecimento — escreve diversos
contos: A fuga, História interrompida e O delírio. Esses contos serão
publicados postumamente em A bela e a fera, de 1979. Passa a morar com a irmã
Tania, já casada, no bairro do Catete. Consegue um emprego de tradutora no
temido Departamento de Imprensa e Propaganda - DIP, dirigido por Lourival
Fontes. Como não havia vaga para esse trabalho, Clarice ganha o lugar de
redatora e repórter da Agência Nacional. Inicia-se, ai, sua carreira de
jornalista. No novo emprego, convive com Antonio Callado, Francisco de Assis
Barbosa, José Condé e, também, com Lúcio Cardoso, por quem nutre durante tempos
uma paixão não correspondida: o escritor era homossexual. Com seu primeiro
salário, entra numa livraria e compra "Bliss - Felicidade", de
Katherine Mansfield, com tradução de Erico Verissimo, pois sentiu afinidade com
a escritora neozelandesa.
1941 - Em 19 de
janeiro, publica a reportagem "Onde se ensinará a ser feliz", no
jornal "Diário do Povo", de Campinas (SP), sobra a inauguração de um
lar para meninas carentes realizada pela primeira-dama Darcy Vargas. Além de
textos jornalísticos, continua a publicar textos literários. Cursando o
terceiro ano de direito, colabora com a revista dos estudantes de sua
faculdade, "A Época", com os artigos Observações sobre o fundamento
do direito de punir e Deve a mulher trabalhar? Passa a freqüentar o bar
"Recreio", na Cinelândia, centro do Rio de Janeiro, ponto de encontro
de autores como Lúcio Cardoso, Vinicius de Moraes, Rachel de Queiroz, Otávio de
Faria, e muitos mais.
1942 - Começa a namorar
com Maury Gurgel Valente, seu colega de faculdade. Com 22 anos de idade, recebe
seu primeiro registro profissional, como redatora do jornal "A
Noite". Lê Drummond, Cecília Meireles, Fernando Pessoa e Manuel Bandeira.
Realiza cursos de antropologia brasileira e psicologia, na Casa do Estudante do
Brasil. Nesse ano, escreve seu primeiro romance, Perto do coração selvagem.
1943 - Casa-se com o
colega de faculdade Maury Gurgel Valente e termina o curso de Direito. Seu
marido, por concurso, ingressa na carreira diplomática.
1944 - Muda-se para
Belém do Pará (PA), acompanhando seu marido. Fica por lá apenas seis meses. Seu
livro recebe críticas favoráveis de Guilherme Figueiredo, Breno Accioly, Dinah
Silveira de Queiroz, Lauro Escorel, Lúcio Cardoso, Antonio Cândido e Ledo Ivo,
entre outros. Álvaro Lins publica resenha com reparos ao livro mesmo antes de
sua publicação, baseado na leitura dos originais. Qualifica o livro de
"experiência incompleta". Há os que pretendem não compreender o
romance, os que procuram influências — de Virgínia Wolf e James Joyce, quando ela
nem os tinha lido — e ainda os que invocam o temperamento feminino. Nas
palavras de Lauro Escorel, as características do romance revelam uma
"personalidade de romancista verdadeiramente excepcional, pelos seus
recursos técnicos e pela força da sua natureza inteligente e sensível." O
casal volta ao Rio e, em 13/07/44, muda-se para Nápoles, em plena Segunda
Guerra Mundial, onde o marido da escritora vai trabalhar. Já na saída do
Brasil, Clarice mostra-se dividida entre a obrigação de acompanhar o marido e
ter de deixar a família e os amigos. Quando chega à Itália, depois de um mês de
viagem, escreve: "Na verdade não sei escrever cartas sobre viagens, na
verdade nem mesmo sei viajar." Termina seu segundo romance, O lustre.
Recebe o prêmio Graça Aranha com Perto do coração selvagem, considerado o
melhor romance de 1943. Conhece Rubem Braga, então correspondente de guerra do
jornal "Diário Carioca".
1945 - Dá assistência a
brasileiros feridos na guerra, trabalhando em hospital americano. O pintor
italiano Giorgio De Chirico pinta-lhe um retrato. Viaja pela Europa e conhece o
poeta Giuseppe Ungaretti. O lustre é publicado no Brasil pela Livraria Agir
Editora.
1946 - Após o
lançamento do livro, Clarice vem ao Brasil como correio diplomático do
Ministério das Relações Exteriores, aqui ficando por quase três meses. Nessa
época, apresentado por Rubem Braga, conhece Fernando Sabino que a introduz a
Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos e, posteriormente, a Hélio Pellegrino.
De volta à Europa, vai morar com a família em Berna, Suíça, para onde seu
marido havia sido designado como segundo-secretário. Sua correspondência com
amigos brasileiros a mantinha a par das novidades, em especial as trocadas com
Fernando Sabino. A troca de cartas com o escritor, quase que diariamente, duraria
até janeiro de 1969. A convite, passam as festas de fim de ano com Bluma e
Samuel Wainer, em Paris.
1947 - Em carta às
irmãs, em janeiro de 47, de Paris, Clarice expõe seu estado de
inadaptação:"Tenho visto pessoas demais, falado demais, dito mentiras,
tenho sido muito gentil. Quem está se divertindo é uma mulher que eu detesto,
uma mulher que não é a irmã de vocês. É qualquer uma." Em carta a Lúcio Cardoso, que havia lhe
enviado seu livro "Anfiteatro", demonstra sua admiração pelas
personagens femininas da obra.
1948 - Clarice fica
grávida de seu primeiro filho. Para ela, a vida em Berna é de miséria
existencial. A Cidade Sitiada, após três anos de trabalho, fica pronto.
Terminado o último capítulo, dá à luz. Nasce então um complemento ao método de
trabalho. Ela escreve com a máquina no colo, para cuidar do filho. Na crônica
"Lembrança de uma fonte, de uma cidade", Clarice afirma que, em
Berna, sua vida foi salva por causa do nascimento do filho Pedro, ocorrido em
10/09/1948, e por ter escrito um dos livros "menos gostados" (a
editora Agir recusara a publicação).
1949 - Clarice volta ao
Rio. Seu marido é removido para a Secretaria de Estado, no Rio de Janeiro. A
cidade sitiada é publicado pela editora "A Noite". O livro não obtém
grande repercussão entre o público e a crítica.
1950 - Escrevendo
contos e convivendo com os amigos (Sabino, Otto, Lúcio e Paulo M. Campos), vê
chegar a hora de partir: seguindo os passos de seu marido, retorna à Europa,
onde mora por seis meses na cidade de Torquay, Inglaterra.
Sofre
um aborto espontâneo em Londres. É atendida pelo vice-cônsul na capital
inglesa, João Cabral de Melo Neto.
1951 - A escritora
retorna ao Rio de Janeiro, em março. Publica uma seleta com seis contos na
coleção "Cadernos de cultura", editada pelo Ministério da Educação e
Saúde. Falece sua grande amiga Bluma, ex-esposa de Samuel Wainer.
1952 - Cola grau na
faculdade de direito, depois de muitos adiamentos. Volta a trabalhar em
jornais, no período de maio a outubro, assinando a página "Entre
Mulheres", no jornal "Comício", sob o pseudônimo de "Tereza
Quadros". Atendeu a um pedido do amigo Rubem Braga, um dos fundadores do
jornal. Nesse setembro, já grávida, embarca para a capital americana onde
permanecerá por oito anos. Clarice inicia o esboço do romance A veia no pulso,
que viria a ser A Maçã no Escuro, livro publicado em 1961.
1953 - Em 10 de
fevereiro, nasce Paulo, seu segundo filho. Ela continua a escrever A Maçã no
Escuro, em meio a conflitos domésticos e interiores. Mãe, Clarice Lispector
divide seu tempo entre os filhos, A Maçã no Escuro, os contos de Laços de
Família e a literatura infantil. Nos Estados Unidos, Clarice conhece o renomado
escritor Erico Veríssimo e sua esposa Mafalda, dos quais torna-se grande amiga.
O escritor gaúcho e sua esposa são
escolhidos para padrinhos de Paulo. Não tem sucesso seu projeto de
escrever uma crônica semanal para a revista "Manchete". Tem a
agradável notícia de que seu romance Perto do coração selvagem seria traduzido
para o francês.
1954 - É lançada a
primeira edição francesa de Perto do coração selvagem, pela Editora Plon, com
capa de Henri Matisse, após inúmeras reclamações da escritora sobre erros na
tradução. Em julho, com os filhos, viaja para o Brasil, aqui ficando até
setembro. De volta aos Estados Unidos, interrompe a elaboração de A maçã no
escuro e se dedica, por cinco meses, a escrever seis contos encomendados por
Simeão Leal.
1955 - Retorna a
escrever o novo romance e contos. Sabino, que leu os seis contos feitos sob
encomenda, os acho "obras de arte".
1956 - Termina de
escrever A Maçã no Escuro (até então com o titulo de A veia no pulso). Érico
Veríssimo e família retornam ao Brasil, não sem antes aceitarem serem os
padrinhos de Pedro e Paulo. Entre os escritores, inicia-se uma vasta
correspondência. A escritora e filhos vêm passar as férias no Brasil e Clarice
aproveita para tentar a publicação de seu novo romance e os novos contos.
Apesar de todo o empenho de Fernando Sabino e Rubem Braga, os livros não são
editados. A escritora dá sinais de sua indisposição para com o tipo de vida que
leva.
1957 - Rompe
unilateralmente o contrato com Simeão Leal e autoriza Sabino e Braga a
encaminharem seus contos — nessa altura em número de quinze — para serem
publicados no "Suplemento Cultural" do jornal "O Estado de São
Paulo". Seu casamento vive momentos de tensão.
1958 - Conhece e se
torna amiga da pintora Maria Bonomi. É convidada a colaborar com a revista
"Senhor", prevista para ser lançada no início do ano seguinte. Erico
Verissimo escreve informando estar autorizado a editar seu romance e, também,
seus contos pela Editora Globo, de Porto Alegre. 1.000 exemplares — dos mais de
1.700 remanescentes — de "Près du coeur sauvage" são incinerados, por
falta de espaço de armazenamento. O casamento de Clarice dá sinais de seu
final.
1959 - Separa-se do
marido e, em julho, regressa ao Brasil com seus filhos. Seu livro continua
inédito. A escritora resolve comprar o apartamento onde está residindo, no
bairro do Leme, e, para isso, busca aumentar seus ganhos. Sob o pseudônimo de
"Helen Palmer", inicia, em agosto, uma coluna no jornal "Correio
da Manhã", intitulada "Correio feminino — Feira de utilidades".
1960 - Publica,
finalmente, Laços de Família, seu primeiro livro de contos, pela editora
Francisco Alves. Começa a assinar a coluna "Só para Mulheres", como
"ghost-writer" da atriz Ilka Soares, no "Diário da Noite",
a convite do jornalista Alberto Dines. Assina, com a Francisco Alves, novo
contrato para a publicação de A maçã no escuro. Torna-se amiga da escritora
Nélida Piñon.
1961 - Publica o
romance A maçã no escuro. Recebe o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do
Livro, por Laços de família.
1962 - Passa a assinar a
coluna "Children's Corner", da seção "Sr. & Cia.", onde
publica contos e crônicas. Visita, com os filhos, seu ex-marido que se encontra
na Polônia. Recebe o prêmio Carmen Dolores Barbosa (oferecido pela senhora
paulistana de mesmo nome), por A maçã no escuro, considerado o melhor livro do
ano.
1963 - A convite,
profere no XI Congresso Bienal do Instituto Internacional de Literatura
Ibero-Americana, realizado em Austin - Texas, conferência sobre o tema
"Literatura de vanguarda no Brasil. Conhece Gregory Rabassa, mais tarde
tradutor para o inglês de A maçã no escuro. A paixão segundo G. H. é escrito em
poucos meses, sendo entregue à Editora do Autor, de Sabino e Braga, para
publicação. Compra um apartamento em construção no bairro do Leme.
1964 - Publica o livro
de contos A legião estrangeira e o romance A Paixão Segundo G. H., ambos pela
Editora do Autor. Em dezembro, o juiz profere a sentença que poria fim ao
processo de separação de Clarice e Maury.
1965 - Em maio, muda-se
para o apartamento comprados em 1963. Sua obra passa a ser vista com outros
olhos — pela crítica e pelo público leitor — após A paixão segundo G. H.
Resultado de uma seleta de trechos de seus livros, adaptados por Fauzi Arap, é
encenada no Teatro Maison de France o espetáculo Perto do coração selvagem, com
José Wilker, Glauce Rocha e outros. Dedica-se à educação dos filhos e com a
saúde de Pedro, que apresenta um quadro de esquizofrenia, exigindo cuidados
especiais. Apesar de traduzida para diversos idiomas e da republicação de
diversos livros, a situação financeira de Clarice é muito difícil.
1966 - Na madrugada de
14 de setembro a escritora dorme com um cigarro aceso , provocando um incêndio.
Seu quarto ficou totalmente destruído. Com inúmeras queimaduras pelo corpo,
passou três dias sob o risco de morte — e dois meses hospitalizada. Quase tem
sua mão direita — a mais afetada — amputada pelos médicos. O acidente mudaria
em definitivo a vida de Clarice.
1967 - As inúmeras e
profundas cicatrizes fazem com que a escritora caia em depressão, apesar de
todo o apoio recebido de seus amigos. Não foi só um ano de acontecimentos
ruins. Começa a publicar em agosto — a convite de Dines — crônicas no
"Jornal do Brasil", trabalho que mantém por seis anos. Lança o livro
infantil O mistério do coelho pensante, pela José Álvaro Editor. Em dezembro,
passa a integrar o Conselho Consultivo do Instituto Nacional do Livro.
1968 - Em maio, o livro
O mistério do coelho pensante é agraciado com a "Ordem do Calunga",
concedido pela Campanha Nacional da Criança. Entrevista personalidades para a
revista "Manchete" na seção "Diálogos possíveis com Clarice
Lispector". Participa da manifestação contra a ditadura militar, em junho,
chamada "Passeata dos 100 mil". Morrem seus amigos e escritores Lúcio
Cardoso e Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta). É nomeada assistente de
administração do Estado. Profere palestras na Universidade Federal de Minas
Gerais e na Livraria do Estudante, em Belo Horizonte. Publica A mulher que
matou os peixes, outro livro infantil, ilustrado por Carlos Scliar.
1969 - Publica seu
"hino ao amor": Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres, pela
Editora Sabiá. O romance ganha o prêmio "Golfinho de Ouro", do Museu
da Imagem e do Som. Viaja à Bahia onde entrevista para a "Manchete" o
escritor Jorge Amado e os artistas Mário Cravo e Genaro. Em 14/08 é aposentada
pelo INPS - Instituto Nacional de Previdência Social. Seu filho Paulo, mora nos
Estados Unidos desde janeiro, num programa de intercâmbio cultural. Seu irmão
Pedro, em tratamento psiquiátrico, esteve internado por um mês, em junho.
1970 - Começa a
escrever um novo romance, com o título provisório de Atrás do pensamento:
monólogo com a vida. Mais adiante, é chamado Objeto gritante. Foi lançado com o
título definitivo de Água viva. Conhece Olga Borelli, de que se tornaria grande
amiga.
1971 - Publica a
coletânea de contos Felicidade clandestina, volume que inclui O ovo e a
galinha, escrito sob o impacto da morte do bandido Mineirinho, assassinado pela
polícia com treze tiros, no Rio de Janeiro. Há, também, um conjunto de escritos
em que rememora a infância em Recife. Encarrega o professor Alexandre Severino
da tradução, para o inglês, de Atrás do pensamento: monólogo com a vida. Dez de
seus contos já publicados constam de "Elenco de cronistas modernos",
lançado pela Editora Sabiá.
1972 - Retoma a revisão
de Atrás do pensamento, com o qual não estava satisfeita. Faz inúmeras
alterações no texto e passa a chamá-lo Objeto gritante. Repensando o romance,
procura distrair-se. Durante um mês posa para o pintor Carlos Scliar, em Cabo Frio (RJ).
1973 - Publica o
romance Água viva, após três anos de elaboração, pela Editora Artenova, que
lançaria também, nesse ano, A imitação da rosa, quinze contos já publicados
anteriormente em outras coletâneas. Alberto Dines, em carta à escritora, diz
sobre Água viva: "[...] É menos um livro-carta e, muito mais, um livro
música. Acho que você escreveu uma sinfonia". Viaja à Europa com a amiga
Olga Borelli. Clarice deixa de colaborar com o "Jornal do Brasil",
face à demissão de Alberto Dines, no mês de dezembro.
1974 - Para manter seu
nível de renda, aumenta sua atividade como tradutora. Verte, entre outros,
"O retrato de Dorian Gray", de Oscar Wilde, adaptado para o público
juvenil, pela Ediouro. Publica, pela José Olympio Editora, outro livro
infantil, A vida íntima de Laura e dois livros de contos, pela Artenova: A via
crucis do corpo e Onde estivestes de noite. Uma curiosidade: a primeira edição
de Onde estivestes de noite foi recolhida porque foi colocado, erroneamente, um
ponto de interrogação no título. Seu cão, Ulisses, lhe morde o rosto, fazendo
com que se submeta a cirurgia plástica reparadora reparadora realizada por seu
amigo Dr. Ivo Pitanguy. Lê, em Brasília (DF), a convite da Fundação Cultural do
Distrito Federal, a conferência "Literatura de vanguarda no Brasil",
que já apresentara no Texas. Participa, em Cali — Colômbia, do IV Congresso da
Nova Narrativa Hispano-americana. Seu filho, Paulo, vai morar sozinho, em um
apartamento próximo ao da escritora. Pedro vai morar com o pai, em Montevidéu —
Uruguai.
1975 - Tendo como
companheira de viagem a amiga Olga Borelli, participa do I Congresso Mundial de
Bruxaria, em Bogotá, Colômbia. No dia de sua apresentação sente-se indisposta e
pede a alguém que leia o conto O ovo e a galinha, não apresentando a fala sobre
a magia que havia preparado para a introdução da leitura. Muito embora
minimizada, essa participação tem muito a ver com as palavras ditas por Otto
Lara Resende, conhecido escritor, em um bate-papo com José Castello: "Você
deve tomar cuidado com Clarice. Não se trata de literatura, mas de
bruxaria." Otto se baseava em estudos feitos por Claire Varin, professora
de literatura canadense que escreveu dois livros sobre a biografada. Segundo
ela, só é possível ler Clarice tomando seu lugar — sendo Clarice. "Não há outro caminho", ela
garante. Para corroborar sua tese,
Claire cita um trecho da crônica A descoberta do mundo, onde a escritora diz:
"O personagem leitor é um personagem curioso, estranho. Ao mesmo tempo que
inteiramente individual e com reações próprias, é tão terrivelmente ligado ao
escritor que na verdade ele, o leitor, é o escritor." Traduz romances,
como "Luzes acesas", de Bella Chagall, "A rendeira", de
Pascal Lainé, e livros policiais de Agatha Christie. Ao longo da década, faz
adaptações de obras de Julio Verne, Edgar Allan Poe, Walter Scott e Jack London
e Ibsen. Lança Visão do esplendor, com trabalhos já publicados na coluna
"Children's Corner", da revista "Senhor" e também no
"Jornal do Brasil". Publica De corpo inteiro, com algumas entrevistas
que fizera anteriormente para revistas cariocas. É muito elogiada quando visita
Belo Horizonte, fato que a deixa contrariada. Passa a dedicar-se à pintura.
Morre, dia 28 de novembro, seu grande amigo e compadre Erico Verissimo. Reúne
trabalhos de Andréa Azulay num volume artesanal ilustrado por Sérgio Mata,
intitulado "Meus primeiros contos". Andréa tinha, então, dez anos de
idade.
1976 - Seu filho Paulo
casa-se com Ilana Kauffmann. Participa, em Buenos Aires, Argentina, da Segunda
Exposición — Feria Internacional del Autor al Lector, onde recebe muitas
homenagens. É agraciada, em abril, com o prêmio concedido pela Fundação
Cultural do Distrito Federal, pelo conjunto de sua obra. Grava depoimento no
Museu da Imagem e do Som, no Rio de Janeiro, em outubro, conduzido por Affonso
Romano de Sant'Anna, Marina Colasanti e por João Salgueiro, diretor do MIS. Em
maio, corre o boato de que a escritora não mais receberia jornalistas. José
Castello, biógrafo e escritor, nessa época trabalhando no jornal "O
Globo", mesmo assim telefona e consegue marcar um encontro. Após muitas
idas e vindas é recebido. Trava então o seguinte diálogo com Clarice:
J.C.
"— Por que você escreve?
C.L.
"— Vou lhe responder com outra pergunta: — Por que você bebe água?"
J.C.
"— Por que bebo água? Porque tenho sede."
C.L.
"— Quer dizer que você bebe água para não morrer. Pois eu também: escrevo
para me manter viva."
Enquanto
escreve A hora da estrela com a a ajuda da amiga Olga, toma notas para o novo
romance, Um sopro de vida. Revê Recife e visita parentes. Em dezembro,
"Fatos e Fotos Gente", revista do grupo "Manchete", publica
entrevista feita com a artista Elke Maravilha, a primeira de uma série que se
estenderia até outubro de 1977.
1977 - A revista
"Fatos e Fotos Gente" publica, em janeiro, entrevista feita pela
escritora com Mário Soares, primeiro-ministro de Portugal. O jornal
"Última Hora" passa a publicar, a partir de fevereiro, semanalmente,
as suas crônicas. Ainda nesse mês, é entrevistada pelo jornalista Júlio Lerner
para o programa "Panorama Especial", TV Cultura de São Paulo, com o
compromisso de só ser transmitida após a sua morte. Escreve um livro para
crianças, que seria publicado em 1978, sob o título Quase de verdade. Escreve,
ainda, doze histórias infantis para o calendário de 1978 da fábrica de brinquedos "Estrela",
intitulado Como nasceram as estrelas. Vai à França e retorna inesperadamente.
Publica A hora da estrela, pela José Olympio, com introdução — "O grito do
silêncio" — de Eduardo Portella. Esse livro seria adaptado para o cinema,
em 1985, por Suzana Amaral. A editora Ática lança nova edição de A legião
estrangeira, com prefácio de Affonso Romano de Sant'Anna. Clarice morre, no
Rio, no dia 9 de dezembro de 1977, um dia antes do seu 57° aniversário vitimada
por uma súbita obstrução intestinal, de origem desconhecida que, depois,
veio-se a saber, ter sido motivada por um adenocarcinoma de ovário
irreversível. O enterro aconteceu no
Cemitério Comunal Israelita, no bairro do Caju, no dia 11. Vai ao ar, pela TV
Cultura, no dia 28/12, a entrevista gravada em fevereiro desse ano.
1978 - Três livros
póstumos são publicados: o romance Um sopro de vida — Pulsações, pela Nova
Fronteira, a partir de fragmentos em parte reunidos por Olga Borelli; o de crônicas Para não esquecer, e o infantil, Quase de verdade, em volume autônomo, pela
Ática. Para não esquecer é composto de crônicas que haviam sido publicadas na
segunda parte do livro A legião estrangeira, em 1964, que compunham a seção
"Fundo de Gaveta" do citado livro. A hora da estrela é agraciada com
o prêmio Jabuti de "Melhor Romance". A paixão sendo G. H. é publicada
na França, com tradução de Claude Farny.
1979 - É publicado A
bela e a fera, pela Nova Fronteira, contendo contos publicados esparsamente em
jornais e revistas. Estréia, no teatro Ruth Escobar, em São Paulo, Um sopro de
vida, baseado em livro de mesmo nome, com adaptação de Marilena Ansaldi e
direção de José Possi Neto.
1981 - "Clarice
Lispector — Esboço para um retrato", de Olga Borelli, é lançado pela Nova
Fronteira.
1984 - Reunindo a quase
totalidade de crônicas publicadas no Jornal do Brasil, no período de 1967 a
1973, é lançado "A descoberta do mundo", organização de Paulo Gurgel
Valente, filho da autora. A Éditions des Femmes, da França, lança, em sua
coleção "La Bibliotèque des voix", fita cassete com trechos de La
passion selon G. H., lidos pela atríz Anouk Aimée.
1985 - A hora da
estrela recebe dois prêmios na 36ª edição do Festival de Berlim: da
Confederação Internacional de Cineclubes — Cicae, e da Organização Católica
Internacional do Cinema e do Audiovisual — Ocic. O longa-metragem de mesmo
nome, dirigido por Suzana Amaral, com roteiro de Alfredo Oros também é
premiado: Marcélia Cartaxo recebe o Urso de Prata de "Melhor Atriz".
Outros
acontecimentos
Os
10 anos da morte da escritora são lembrados com diversas homenagens em sua
memória. É aberto ao público o conjunto de documentos que viria a constituir o
Arquivo Clarice Lispector do Museu de Literatura Brasileira da Fundação Casa de
Rui Barbosa - FCRB, no Rio de Janeiro, constituído de documentos doados por
Paulo Gurgel Valente.
Em
1990, a Francisco Alves Editora inicia a reedição da obra da escritora. A
paixão segundo G. H. é encenada na capital francesa, no teatro Gérard Philippe,
em montagem de Alain Neddam. Diane E. Marting, em 1993, publica "Clarice
Lispector. A Bio-Bibliography", pela Westport: Greenwood Press, nos
Estados Unidos. Em 1996, é lançada a antologia "Os melhores contos de
Clarice Lispector", pela editora Global.
Estreia
no Rio de Janeiro "Clarice — Coração selvagem", adaptado e dirigido
por Maria Lúcia Lima, com Aracy Balabanian, em 1998.
No
ano seguinte, "Que mistérios tem Clarice", adaptado por Luiz Arthur
Nunes e Mário Piragibe estréia no teatro N. E. X. T.
Fernando
Sabino, em 2001, organiza e publica, pela Record, "Cartas perto do
coração", contendo correspondência que manteve com a escritora de 1946 a
1969.
A
editora Rocco lança, em 2002, "Correspondências — Clarice Lispector",
antologia de cartas de e para a escritora, seleção de Teresa Monteiro.
No
aniversário de Clarice, 10/12/2002, a Embaixada do Brasil na Ucrânia e a
Prefeitura de Tchetchelnik se associam em homenagem à memória da escritora,
inaugurando uma placa com dados biográficos
gravados em russo e em português, que é afixada na entrada da sede da
administração municipal.
Em
2004, os manuscritos de A hora da estrela e parte dos livros que pertenciam à
biblioteca pessoal de Clarice Lispector são confiadas por Paulo Gurgel Valente
à guarda do Instituto Moreira Salles, que lança, em dezembro, edição especial
dos "Cadernos de Literatura Brasileira", dedicada à vida e à obra da
autora.
Em
artigo publicado no jornal "The New York Times", no dia 11/03/2005, a
escritora foi descrita como o equivalente de Kafka na literatura
latino-americana. A afirmação foi feita por Gregory Rabassa, tradutor para o
inglês de Jorge Amado, Gabriel García Márquez, Mario Vargas Llosa e de Clarice.
No dia 13/01, foi discutido o viés judaico na obra da autora no Centro de
História Judaica em Nova York.
O
Consulado-Geral do Brasil em Córdoba - Argentina, participou, em 2007, de
homenagem, dos alunos do 6º ano do nível médio, à escritora Clarice Lispector.
O fato mereceu destaque na página de divulgação de eventos culturais do
Ministério das Relações Exteriores. Naquela cidade encontram-se 47 escolas que
ensinam a Língua Portuguesa e aspectos da cultura e literatura brasileira. O
Consulado-Geral também conta com uma pequena biblioteca, que atende ao público
interessado nesses assuntos, embora não haja ali nenhuma obra da citada
escritora. No entanto, têm sido publicadas, nos últimos tempos, notas sobre a
vida e a obra de Clarice Lispector, na imprensa local.
Dados extraídos do site: www.releituras.com
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